Bem, depois de muito enrolar, vou fazer breves comentários sobre alguns dos contos, e também revelar o ganhador do Prêmio Técnico. Vai ser assim mesmo, sem pompa e circunstância, já que deixei passar muito tempo antes de falar. Não pude comentar todos os contos, outras histórias legais ficaram sem comentários, mas aos poucos vou colocando os apontamentos das histórias restantes.
Ah, perdoem a linguagem coloquial e descuidada dos meus comentários, mas estou sem nenhum tempo de caprichar na escrita. Vai desse jeito mesmo, senão iria demorar ainda mais, rsrsrs.
Abraços a todos, e obrigado pela participação no concurso Escritores de Terror, seja escrevendo, comentando, votando ou doando prêmios! A maioria dos escritores buscou evitar ao máximo o uso de clichês, o que é muito louvável e demonstra criatividade. Não vou me aprofundar em críticas e sugestões gramaticais, pois a maioria dos comentários já foi muito eficiente nesse aspecto. Só peço aos escritores que saibam filtrar as sugestões úteis daquelas que não precisam ser necessariamente utilizadas, pois muitas opiniões são bastante subjetivas, enquanto um ou outro conselho é furado mesmo (inclusive os meus, rsrs). Mas enfim, fica a critério de cada escritor como separar o joio do trigo.
Sem mais, vamos aos comentários!
Museu do Terror
Uma história sutil e escrita de maneira quase poética, no melhor estilo Ray Bradbury. Museu do Terror é, acima de tudo, uma bela homenagem ao gênero terror (e certamente, quem conhecia as obras mencionadas aproveitou muito mais o conto). É uma pena que os leitores tenham sentido falta de “mais terror”, mas o objetivo do conto não era esse. Conforme foi bem observado, o objetivo era fazer um confronto entre o terror fictício (a fantasia, que diverte, que é brincadeira apenas) e o terror da realidade (a bomba atômica, uma arma de destruição em massa muito mais terrível do que qualquer monstro fictício). Felizmente, o autor Duda Falcão resolveu continuar o seu conto numa série de histórias, que sugiro a todos que acompanhem com atenção. Parabéns pela criatividade e execução impecável, Duda. Seu conto é fantástico!
Homens não Choram
Outro conto de qualidade ímpar. Este foi um dos contos mais eficientes na abordagem psicológica de seu personagem central, muito bem aprofundado no pouco espaço que foi concedido. Infelizmente, o autor teve o azar de criar um monstro muito parecido com a criatura de outro conto concorrente, o que tirou um pouco do impacto da criatura. Mesmo assim, isso não tira o brilho da história, uma das mais bem escritas do concurso.
O Caminho para o Inferno
Um conto com fortes descrições de torturas e outros sortilégios, O Caminho para o Inferno é uma história tensa e angustiante. O ponto fraco são alguns diálogos, muito contemporâneos para a ambientação escolhida, mas a narrativa compensa esses pequenos defeitos. Pena que o enredo foi muito confuso para a maioria dos leitores, o que certamente prejudicou o conto na hora das votações.
Penitência
Rápido e rasteiro, Penitência é um conto com boa atmosfera e ritmo exato, não precisa ser maior nem menor do que isso. Aparentemente, algumas pessoas queriam que a história fosse maior, o que não deixa de ser um elogio ao autor. Ah, mas sou suspeito para falar do enredo desse conto, afinal já abordei o mesmo tema (ou quase) no meu conto O Confessionário! Rsrsrs. Felizmente, as histórias são muito diferentes em seus desenvolvimentos, e Penitência é muito bom. Ah, não esqueçam de conferir o livro do autor, Histórias que nos Sangram, já a venda!
O Falso Mensageiro
Conto bem feito e original, com uma reviravolta interessante em seu desfecho. Pena que alguns detalhes meio confusos e problemas de ritmo comprometeram o resultado final. Espero que a autora reescreva o conto, pois ele merece ser melhor trabalhado!
3-D
Muito... Foda. O conto do Caio transmite uma energia implacável, quase furiosa. A história em si me pareceu muito original e interessante, e a execução não fez feio. Embora algumas pessoas não tenham gostado do estilo rebuscado da narrativa, eu achei ótima; gosto da maneira que o Caio escreve, gosto do jeito pouco usual que ele utiliza algumas palavras, muitas vezes extrapolando o sentido delas e “obrigando-as” a fazerem sentido em seu universo. Caso fosse menos talentoso, o resultado poderia ser catastrófico, porém, o Caião segura as rédeas desse cavalo selvagem chamado “3-D” com mão firme, sem deixá-lo sair do controle. A ironia transparece durante todo o evento, com ótimas “falas” e passagens tão intensas e cinematográficas que é até possível ver aquele maldito “tubarão” passando por debaixo das cadeiras do cinema. O final, aparentemente abrupto, me parece uma homenagem àqueles antigos filmes de monstros, onde o desfecho era simplesmente a morte do monstro, e acabou. Não é preciso mostrar epílogo, não é preciso dizer o que aconteceu com os personagens, o fim daquele pesadelo já é o bastante. Parabéns, Caio. Teu conto foi um dos melhores e, certamente, foi o mais intenso do concurso.
Seu Deus
Um bom conto do gênero “seitas cruéis”, Seu Deus acabou não recebendo muitos comentários, o que é injusto. A história é bem feita, e o recurso de terminá-la utilizando a mesma frase do início é algo elegante, pois o conto se completa como um círculo.
A Cidade Onde Vivem os Mortos
O conto de Flávia Tavares começa de uma maneira bastante parecida com Crepúsculo, o que levou alguém a taxar toda a história, injustamente, de “teen”. Nada contra “contos teen” ou destinados a qualquer faixa etária (contanto que sejam contos bons), no entanto, logo a história de Flávia toma um rumo diferente, e o estilo próprio da autora transparece com frescor e delicadeza. O final é bacana, de uma morbidez inesperada e bem-vinda.O conto é muito bom, embora tenha sido prejudicado pelo título, que entrega algo que deveria ser surpresa. Flávia, muda o nome dessa história, ok? Rsrsrs. E parabéns!
A Luz no Casarão
O conto de Ângela Oiticica faz mais o estilo “realismo fantástico” do que terror propriamente dito, o que não é uma crítica, mas certamente é algo que o prejudicou frente as histórias mais sinistras. O diálogo quase natural entre os vivos e mortos fortalece o tom de fábula sinistra, algo que a aparição de uma nova entidade final não é o suficiente para alterar. Mas enfim, a narrativa é ótima, e Ângela tem um estilo quase “Neil Gaimaniano” de escrever, sempre com extrema facilidade para transmitir climas oníricos e surreais. Enfim, A Luz no Casarão é uma história que merece ser relida, agora com outros olhos.
Coleção
Elton Menezes nunca entrega menos que excelência. Simples assim. O cara é, na minha opinião, o mestre do “horror real”, aquele terror que não precisa de monstros, fantasmas e outras entidades sobrenaturais para assustar; seus monstros são humanos, são pessoas que podem estar bem aí, do seu lado, tramando uma maneira não muito agradável de dar cabo de sua existência (e talvez por isso, suas histórias sejam tão tensas). O fabuloso conto Coleção ficou um pouco prejudicado pela escolha de um recurso estilístico diferenciado (e que, confesso, não entendi de início, rsrs), que aparentemente deixou muitas pessoas com dor de cabeça; mesmo assim, palmas para a coragem e ousadia do autor, que mesmo sabendo que isso o prejudicaria, foi lá e fez a diferença. Ah, e obrigado pela homenagem, amigo!
Do Outro Lado do Arco-Íris
Diálogos convincentes, ambientação interessante, um suspense de prender na cadeira. Esses são os pontos fortes de mais uma excelente história que iluminou nosso concurso. Sim, a revelação do “monstro” em si pode ter parecido decepcionante, ou até mesmo cômica para alguns leitores, mas eu não compartilho dessa opinião: achei a escolha interessante, e se até mesmo gremlins, macacos e outras criaturas menores podem ser usadas em histórias de horror, pq não um “Leprechaum”? Acho que essa foi a história mais eficiente no fator “suspense”, e o final também é ótimo. Parabéns Leandro, sua história merecia estar dentro daquele baú (espero que nenhum anão de dentes afiados tenha vindo buscá-la depois que vc a enviou, rs).
Inspiração
O final desse conto é um dos melhores que vi no concurso: assustador, arrepiante, no sentido clássico da palavra. Infelizmente, o desenvolvimento não fez jus ao desfecho: a motivação do personagem não parece coerente (algum de vocês faria o que ele fez?), o conto é curto demais e, pra ser franco, acho que devemos ser mais sutis quando emitimos nossas opiniões em nossas histórias. O Yuri certamente não gosta de Stephen King, porém seu comentário no meio da história desperta um certo mal-estar naqueles que são fãs do famoso escritor. Caso essa fosse a intenção do Yuri, então tudo bem, porém, caso esse sentimento tenha sido despertado por acidente, é melhor tomar cuidado, meu velho! Enfim, outra coisa que posso dizer a respeito do final é que existem “N” maneiras de chegar àquele desfecho, basta construir uma história onde alguém fica sentado em cima de um túmulo, com aquele epitáfio, e com um gravador na mão. Minha sugestão? Faça outra história e use o mesmo final, que é bom demais pra ser desperdiçado assim!!! Rsrsrsrs. Mas apesar dos pesares, foi um dos três contos que me causou calafrios, e só por isso, a história já merece meus sinceros parabéns!
Sem Remissão
Espetacular. Não há outra palavra para definir este conto, brasileiríssimo até a medula, mas sem qualquer “brasileirismo” pra atrapalhar. O autor Thomé de Oliveira demonstra um domínio invejável da narrativa, prendendo o leitor desde o começo de sua intrigante história, cujo sentido fica a critério de cada leitor. Aquilo é uma memória? Um sonho? Um devaneio? Um vórtice de loucura moribunda? Não importa. O importante é que no final, tivemos uma história realmente assustadora, contendo instantes de calafrios (o caixão que se arrasta, o diabo correndo!) e instantes preciosos, aquelas frases e tiradas tão boas que deixam qualquer conto acima da média (“Tão certo quanto é certo que criar políticos não quer dizer muita coisa. Talvez mais pecados, sei lá.”). Não tenho muito o que falar... Apenas digo que foi um dos dois melhores contos do concurso, na minha opinião.
Fobia Dictióptera
Este é um conto do tipo visceral, que se apóia mais em imagens e atmosfera do que no enredo em si. O resultado é asqueroso, nojento, monstruoso e revoltante (sim, tudo isso é um elogio!). Com apenas 16 anos, o escritor Jhoanathan demonstra um domínio invejável da narrativa; alguém apontou semelhanças desse conto com uma história do filme Creepshow, onde um milionário é atacado por baratas; horas, acontece que o conto Fobia Dictióptera investe muito mais pesado do que o filme, com detalhes que tornam seu conto fundamentalmente diferente do filme apontado. Muito legal.
O Guarda-Chuva
Esse conto é uma obra-prima do chamado “terror sutil”, um horror que apenas arranha a superfície, mas quando o faz, é de maneira mais retumbante do que muitos contos cheios de sangue, tripas e desmembramentos que vemos por aí. Algumas pessoas reclamaram que o terror “só aparece no final”, mas pessoalmente, não vejo qualquer problema nisso; pra mim, esse terror tão breve foi muito mais eficiente do que diversos contos forrados de atrocidades, mas que não tiveram efeito algum. De fato, este foi um dos três contos que me provocaram um calafrio bem real (os outros foram Inspiração e Sem Remissão); já sou calejado com histórias de terror, e essa sensação têm se tornado cada vez mais rara com o passar dos anos. Portanto, agradeço ao Luiz, Thomé e Yuri pelos pequenos presentes que me concederam ;)
Voltando a falar especificamente do conto O Guarda-Chuva, o interessante é que ele dá margem para duas interpretações: ou foi o fantasma do falecido que deixou o guarda-chuva na porta, como um aviso, ou então uma pessoa fez aquilo, talvez como brincadeira, talvez como vingança pelas brincadeiras que fizeram com o amigo. Mas na verdade isso não faz muita diferença, pois o que importa é a mensagem.
Me assusta ver que algumas pessoas não entenderam o sentido do guarda-chuva no final: sim, o guarda-chuva deixado na porta é um sinal de que o fantasma irá assombrar aquelas pessoas por muito mais tempo; é claro que talvez, o fantasma nunca apareça (talvez ele nem exista!), mas depois daquilo, duvido que os demais personagens conseguiriam ter a mesma paz de antes. Toda vez que escutassem um barulho estranho durante a noite, toda vez que vissem um vulto estranho na madrugada silenciosa, o primeiro pensamento deles seria “é o relóginho suíço”. E se isso não é uma vingança danada de boa, eu não sei o que é.
Parabéns irmão, seu conto é fabuloso!
Nascido no Dia do Senhor
Muito foi dito sobre Nascido no Dia do Senhor; que era um conto apelativo, chato, cheio de “plebeísmos”, etc e tal. Assim como O Guarda-Chuva, este foi um dos contos mais polêmicos do concurso. E assim como O Guarda-Chuva, é um dos três melhores contos do concurso.
Um dos maiores desafios para um escritor é o diálogo; é MUITO difícil escrever diálogos realmente convincentes, pois as conversas não podem ser “exatinhas” como a narração, mas também precisam atingir o grau certo de coloquialismo. Quantas vezes não lemos histórias ótimas, mas que perderam seu brilho devido aos diálogos mal feitos? E isso não é um problema apenas dos escritores iniciantes. H.P.Lovecraft, por exemplo, que evitava ao máximo escrever diálogos, e quando era obrigado a isso, geralmente se saía muito mal. Ele sabia dessa fraqueza, por isso investia na narração.
Mas ao contrário do famoso escritor, o forte do Wilson Lourenço é o diálogo. Mas como assim? O conto parece não ter qualquer diálogo entre os personagens, certo? Acontece que toda a história é um imenso diálogo com O LEITOR! Um diálogo muito mais difícil de tornar convincente, mas que ele tirou de letra o tempo todo.
“Plebeísmo”? Sinto muito, meu caro General Ming, mas você escorregou feio aqui. O conto é coloquial, é regional mesmo, como disse alguém; enfim, é o tipo de coisa que um Guimarães Rosa ou um Gabriel Garcia Marques escreve (guardadas as devidas proporções, obviamente). Criticar esse tipo de linguagem é criticar os grandes nomes da elite literária! Enfim, não dá, né gente.
Nosso amigo Leandrito acusou o conto de “aproveitar a febre do filme Tropa de Elite”, um grande equívoco, já que o filme passou há anos e não há mais febre alguma. No entanto, há sim uma certa semelhança do conto com o filme em questão... Não apenas com o filme em questão, mas com os bons livros e filmes de terror onde são os “maus” que pagam o pato: Nascido no Dia do Senhor é um daqueles contos que nos fazem vibrar de contentamento, pois escancaram nosso lado sedento de vingança contra aqueles que atrapalham nossa paz.
Vamos ser francos... Quem de nós nunca assistiu os noticiários sobre traficantes cometendo várias atrocidades, muitas vezes impunes, e não pensou “alguém deveria matar toda essa corja”? Sabemos que existe muita gente boa nas favelas e morros afins, mas intimamente, nossa filosofia classe-média pensa que seria um preço pequeno demais dar cabo de um ou outro inocente em uma guerra contra os comandantes dos morros e favelas. É por isso que não nos importamos quando os interrogados pela tropa de elite são sufocados com sacos plásticos (para invariavelmente entregar o paradeiro dos criminosos). Afinal, nós somos inocentes que sofrem com a criminalidade, só queremos a proteção nossa e de nossos amigos e parentes! Portanto, façam o que for preciso pela nossa proteção! Façam o que for preciso para nos vingar! Sim, é um pensamento errado, questionável, mas também é um pensamento difícil de evitar. De certa forma, é nosso sádico desejo de vingança se misturando com nossa revolta contra a impunidade.
Assim como Tropa de Elite, o conto Nascido no Dia do Senhor escancara nosso desejo por vingança contra aqueles que nos oprimem. Simples assim. E é por isso que o conto é tão foda, é por isso que nos causa tanta emoção: nós nos identificamos com Domenico, que apesar de ser meio bandido, é um “bandido gente boa”, e de certa forma, nosso alter-ego dentro do conto; depois, nos identificamos com Belial (que literalmente “fode” com os meliantes), que nada mais é do que o monstro sedento por justiça que habita em cada um de nós, quando nos imaginamos poderosos o bastante para podermos fazer justiça com as próprias mãos. Belial prende os bandidos em uma redoma de fogo, algo que, além de impedir que qualquer um deles escape impune, também permite que possa dar a cada um deles o que eles merecem (de forma não muito rápida ou humanitária, por assim dizer, rsrs). Wilson conseguiu nos fazer vibrar pelo monstro, nos fazer torcer para que os bandidos tivessem um fim horroroso, e no final das contas, recebemos exatamente o que mais desejamos: o nosso ideal de “justiça”. Sem fazer julgamentos de certo ou errado, Wilson Lourenço manipulou, de forma genial, nossos sentimentos mais perversos, deixando-nos sedentos por mais.
Pois muito bem, eu queria muuuito dar o prêmio técnico ao conto Sem Remissão, que na minha opinião é simplesmente perfeito; no entanto, preciso me ater aos meus princípios, e não há como deixar de premiar esse “Rolo Compressor” chamado Nascido no Dia do Senhor. Embora o conto tenha um ou outro defeito estrutural e uma ou outra colocação gramatical questionável (algo que não se verifica em Sem Remissão), as suas qualidades superam MUITO esses defeitinhos insignificantes.
E é por tudo isso, pela escrita fantástica, pelo ritmo exato e por permitir que nosso lado mais negro se refestelasse de alegria sádica, que o conto Nascido no Dia do Senhor também é o vencedor do Prêmio Técnico do Concurso Escritores de Terror!
Parabéns, Wilson Lourenço. Seu conto mereceu este e todos os outros prêmios que recebeu!
Abraços!
segunda-feira, 13 de julho de 2009
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