Tec Tec Tec - fazia o barulho do teclado, no silêncio das duas e meia de uma madrugada gélida e solitária. Edgar estava sozinho e se sentindo o maior dos miseráveis: “Puta, aquela que me deixou deslocado e desorientado, privando-me de sexo, vai demorar até encontrar outra que aceda aos meus caprichos masculinos” – pensava tempestuoso.
Após colocar o cigarro no cinzeiro, deixando cair pelo percurso algumas cinzas no chão, percebeu que os restos formavam um estranho símbolo, parecido com um ovo, e dentro, uma cruz invertida, ele estremeceu na hora, mesmo sem saber o que significava, mas a exatidão da imagem era assustadora.
Levantou-se e não limpou a sujeira – seria o subconsciente tentando alertá-lo de não esquecer? – foi para o banheiro e tomou um demorado banho.
Não voltou tão cedo para seu escritório, ficou na cozinha beliscando algumas bolachas e rosquinhas, sobras do café da tarde. A vontade de tomar café era grande, mas como morava sozinho e já estava um pouco tarde da noite, resolveu requentar no micro-ondas.
Todos os sábados eram assim, depois do fim de seu namoro, há três semanas. Não saía para se divertir, ficava beliscando sobras de comida e o resto do tempo - principalmente de madrugada - eram preenchidos com o computador, vício do século XXI.
A “limpeza” de seu apartamento não era das melhores depois que sua namorada se mudou. Um ar sombrio sobrevoava o ambiente. Sempre com um cheiro de enxofre, manchas apareciam na parede limpa e sempre que chegava do trabalho, havia alguns vermes na porta de entrada.
Namorou com Angélica por dois anos e meio, mas suas grosserias e comportamento explosivo pesavam mais na balança do que seus poucos gestos românticos. Angélica não agüentou!
Durante a semana, preocupava-se mais em bajular o chefe anti-social do que colocar a mão na massa.
Voltou para o escritório, varreu para um canto o resto das cinzas e foi dormir, já não tinha mais nada a fazer e o tempo começava a esfriar.
A Noite não foi das melhores, seu sono era interrompido diversas vezes pelo barulho constante do vento que balançava os galhos fazendo com que batessem em sua janela. Como seu apartamento era só de cinco andares – morando no segundo – havia duas belas árvores grandes em frente, com galhos necessitando de corte.
Acordava assustado, já que os “arranhões” na janela o deixavam inquieto e alarmado. Quando finalmente pegou no sono “pesado”, teve estranhas visões da imagem que havia se formado no chão com as cinzas do cigarro. Imagens que se misturavam com demônios, cemitério e hospital.
* * *
SEGUNDA DE MANHÃ
Toca o telefone, quanto Edgar estava se arrumando para o trabalho:
_ Ed, sou eu, Angélica, te acordei?
_ Ah... Oi Angi, tudo bem? Não, não me acordou, algum problema? - disse um pouco surpreso. Já que Angélica havia sumido desde que terminaram.
_ Estou mais ou menos, preciso falar com você, é um assunto de urgência a respeito de nós!
_ Hum... Você pode me adiantar alguma coisa?
_ Não, tem que ser pessoalmente, podemos almoçar juntos? – dizia com certa ansiedade.
_ Claro, pode ser no lugar de sempre?
_ Ok, marcado.
Edgar saiu impaciente, o que Angélica estava querendo? Deveria ser alguma bobagem, pensava. Sempre fora de acreditar em destino, em mensagens sobrenaturais e assuntos do gênero, além de gostar de jogar tarô e seguir a risca o “Feng Shui”.
“Deve ser algum sonho bobo que ela teve”. – pensava, tentando descobrir o tópico do assunto.
O trabalho não houve assuntos imediatos, a fim de que pudessem ser resolvidos com urgência. Logo que o relógio marcou onze e meia, saiu para se encontrar com Angélica. Queria saber o que era, estava ficando aflito, por mais que conhecesse sua ex e suas “bobagens”.
_ Que bom que veio Ed, não agüentava mais esperar que a manhã passasse.
_ O que foi em Angi? Você teve algum daqueles sonhos estranhos?
_ Não, o que tenho para falar é concreto.
_ Concreto? Como assim?
Após dar um gole no refrigerante, angélica dispara:
_ Fui à farmácia ontem. Depois fui ao posto fazer exame de sangue.
_ Mas você esta doente? Com AIDS? – disse quase se engasgando com arroz!
_ Edgar, estou grávida! E o filho é seu!
Edgar cuspiu o pouco de arroz que estava em sua boca, pegou o copo de cerveja e deu um gole demorado.
_ Como assim?
_ Grávida oras, de um bebê, vamos ter um filho, estou de quatro semanas.
_ Mas não tomamos cuidado?
_ Não sei, às vezes a camisinha estoura, ela não é 100% segura!
_ Bom, você quer ter?
_ Claro! Por que, você não?
_Claro, sempre quis ter um filho, e estou com quase trinta.
Eles conversaram um pouco mais e decidiram se encontrar em seu apartamento, a fim de se entenderem de vez e resolver o que fariam em diante.
Edgar volta para a casa e lembra-se do símbolo que o deixou tão transtornado na madrugada de sábado. Como estava à toa na internet, resolveu pesquisar no Google.
Digitou em pesquisar: “Símbolo Ovo” e “Cruz invertida”
Resposta: “OVO: As suas características físicas são únicas e bem definidas. É frágil. Contém um repositório de vida nova. É um embrião primitivo que, mais tarde, ergue um mundo novo. O ovo é um dos primeiros símbolos religiosos. É símbolo de fertilidade e eternidade”.
Resposta sobre a cruz: “Símbolo satanista, representando o demônio”
_ Minha Nossa Senhora. – disse se levantando rapidamente quase caindo da cadeira.
_ Que coisa mais estranha. O ovo tudo bem, pode ter sido lá um sinal, mas a cruz? Que brincadeira de mau gosto.
Um arrepio levantou os pelinhos do braço levando-o a estremecer todo. Neste momento viu o quão ruim era morar sozinho.
Então ouve-se a campainha, um pouco desnorteado segue até a porta e quando abre, não vê ninguém, mas ao chão há uma pequena caixa preta, com letras em vermelho dizendo: “Silencie o Demônio”. Edgar teme o que possa estar dentro da caixa, leva para dentro de casa, coloca em cima da mesa e decide abrir. Dentro, um punhal, de prata, parecendo novo, com cheiro de novo, e nada mais.
“Quem haveria colocado este trote de mau gosto?” – pensou enfurecido.
MAIS A NOITE
Angélica chega ao apartamento de Edgar para tratar de detalhes sobre o futuro.
Senta-se no sofá enquanto ele busca um suco de laranja para ela.
_ Háaaaa. – grita ao inclinar o copo de suco para a boca.
O Suco de laranja, doce e com uma cor vívida, se transformara em sangue, vermelho escuro.
O copo escorregou sobre suas mãos caindo no chão se tornando uma mancha enorme.
Neste momento, surge um espectro, usando preto, com seu rosto tampado com um capuz. Edgar e Angélica empalidecem.
Ele estava no canto da porta de entrada do apartamento e dizia:
_ Silenciem o Demônio
_ Co... co.. como assim? – perguntou Edgar
_ Matem o bebê!
_ Mas por quê? Quem é você?
_ O bebê foi gerado no dia seis de junho do novo milênio, às seis da tarde, no ano em que os planetas se alinharam, é o filho da besta! – Sou um mensageiro, que vim interromper que esta criança dos infernos nasça.
_ É mentira! Números não têm nada haver. Não acredito nisso!
_ A criança será um mensageiro do mal, um profeta, que ao contrário de Jesus, irá espalhar suas palavras de desordem, reunir discípulos e seguidores; a fim de espalhar o mal sobre a terra.
Como em um estado de transe, Angélica, fraca, credora em tudo que o espectro fala, pega o punhal que viu em cima da mesa e finca em sua barriga, sem mostrar expressão alguma em sua face.
O BEBÊ ESTA MORTO!
* * *
DUAS SEMANAS DEPOIS
Edgar acorda assustado e se depara com uma criança loira ao pé de sua cama, que dizia triste:
_ Meu nome é Gabriel! Minha missão era vir a terra como mensageiro de luz. Era para ser seu filho, mas acreditou no falso em que dizia ser mensageiro. Ele na verdade é o criador de um ser que habita esta terra, pronto para iniciar o terror e o mal, e eu haveria de detê-lo.
Que vocês se protejam! Pois irão precisar.