segunda-feira, 11 de maio de 2009

A BUSCA DE ETHEGHUAL

Estheghual recebe a benção do feiticeiro, mas isso não faz com que
suas pernas deixem de tremer. Ele aguarda o cessar dos cânticos para, enfim, iniciar sua jornada.
Makag, Luk e Bareg o acompanharão. Todos possuem a mesma responsabilidade: Trazerem seus filhos de volta. A esposa de Bareg não suportara a dor do parto, falecendo poucos dias depois do nascimento do primeiro filho. Mal ele assimilara o sofrimento quando aconteceram os raptos.
O silêncio faz Esteheghual entender que dali para frente tudo que conhecera já não lhe seria de valia alguma. Teme pelos três jovens pais que o seguiriam floresta adentro, pelas crianças de toda a aldeia que simplesmente desapareceram sem deixarem rastros e, acima de tudo, teme retornar sem respostas.
O feiticeiro corta o pescoço de um coelho branco. Ele esfrega o corpo do animal pelo peito nu dos quatro e, em seguida, faz cada um deles sugar a ferida da criatura, que para de se debater muito antes de Estheghual terminar de sorver seu líquido vital.
Durante semanas houveram buscas em locais diferentes. Cavernas afastadas, florestas distantes, mas não fora encontrado sinal algum de suas crianças.
Estheghual sugeriu que procurassem pelo único caminho inexplorado até então, o sopé da montanha da névoa. Todos se aterrorizaram, pois ali seria o único lugar onde não procurariam por seus filhos em sã consciência.
Jamais viajante algum retornara dali. Nunca se recebeu pessoa qualquer que viesse daquela região. No topo, podia-se ver os raios sem som que do céu caíam em esplendor incessante. Os feiticeiros contavam histórias sobre deuses rancorosos que ali habitavam. Criaturas assombrosas que se escondiam na névoa brilhante e que vinham saciar sua fome do lado de fora da nuvem.
Foi de uma dessas histórias que Estheghual recordou quando as crianças desapareceram, mas ele teve muito medo de aceitá-la, até então. A lenda de Gloshuguan-Thügon lhe causou tantos pesadelos na infância que agora ele se sente o mesmo menino assustado, sentado a beira de uma fogueira, ouvindo a grave voz do feiticeiro contando sobre a criança que vive para sempre, escondida pela nuvem brilhante da montanha da névoa.
Diz-se que ela aparece a cada mil anos, quando ela sai para brincar com outras crianças e, assim que ela as chama, nunca mais são vistas. Ele sonhou por várias vezes que Gloshuguan-Thügon vinha lhe chamar para brincar e ele, sem resistir aos seus encantos malignos, desaparecia dentro da escuridão na montanha assombrada, por isso o tremor pelo seu corpo fazia os outros pensarem que, talvez, não fosse apenas o frio que o assolava.
Sua esposa lhe lança um olhar desesperado, clamando que traga o seu filho de volta, mas o semblante do pai não traz alívio para a sofrida mãe, que não contém as lágrimas que caem por cima do boneco de argila moldado pelo menino na tarde antes de sumir junto com todas as crianças. Uma figura caricata do forte pai segurando uma lança de caça. Estheghual respira fundo e, liderando os outros, parte correndo para dentro da escuridão da floresta, em direção à montanha da névoa.
Logo, todo vestígio da presença da tribo desaparece no meio das trevas e do silêncio.
Luk chama a atenção dos três, apontando para a fraca luz amarelada que se faz visível por entre um caminho de mata densa. Estheghual estranha a cor, pois estava acostumado a ver o branco-azulado que percebia sempre quando voltava sua atenção para os confins da montanha dos demônios – o outro nome pelo qual o local era conhecido. Talvez estivessem se dirigindo a outro lugar. Ele vasculha o caminho de volta e, assombrado, percebe que a parca luz amarelada vem de todas as direções por onde a floresta deixa passar seu brilho.
Os quatro se entreolham tentando entender o que acontecia. Estheghual se prontifica a subir na copa de uma enorme árvore para poder enxergar a direção correta em que deveriam seguir para chegar até a montanha.
Quando o faz, retorna transtornado. Ao descrever o que vira, ele deixa seus companheiros sem saberem o que fazer. No topo da árvore ele viu a montanha demoníaca, porém, de lá não enxergou sua aldeia ou qualquer outra formação que lhe fazia recordar de seu lar. A única coisa que ele reconheceu foi a montanha, os raios e a névoa. O que mais lhes assustou foi quando contou que já não estavam mais em uma noite de inverno úmido, e sim num dia quente de verão ensolarado.
Correram os quatro pelo caminho de onde vieram, mas os poucos minutos de caminhada se transformaram em horas de corrida por um terreno desconhecido. Estheghual compreendeu que a luz amarelada era, na verdade, os raios de sol daquele misterioso dia que apareceu a eles de maneira tão furtiva.
Sentiram-se desorientados. Makag era especialista em localizar-se pelo Sol e saberia a direção da aldeia, não fosse a posição totalmente estranha em que o astro quente se apresentava no céu. Disse não entender o porquê, mas a o poderoso deus do dia não poderia mais lhe mostrar o caminho para casa, pois as marcações de sombra das árvores e a direção pela qual caminhava estão muito diferentes daquilo que o rastreador aprendeu. O líder desconfia que tudo seria culpa da lendária magia demoníaca daquele lugar. Mesmo assim, seguem para o objetivo principal: A montanha da névoa.
Eles continuam sua jornada em direção à misteriosa neblina que cerca a gigantesca formação de pedra. Luk avista um lago a frente. Receosos, eles se aproximam do campo aberto com as lanças em punho, mas pessoa ou coisa alguma é notada. Luk se adianta para tomar um pouco de água do lago, enquanto os outros olham em volta e tentam se orientar melhor. Quando eles já estão a certa distância uns dos outros, uma enorme criatura salta da água. Seu aspecto é o de um lagarto gigantesco e seu movimento é rápido e letal. Seu enorme focinho de dezenas de dentes enfileirados abocanha a cintura de Luk e arrasta seu corpo para dentro do lago. Bareg até arremessa sua lança, que não encontra nada além de água a borbulhar. Eles chamam por Luk, que não tem mais condições de responder. Quando pensam em deixar o local correndo, a criatura salta novamente, colocando todo o corpo para fora do lago. Assim é possível perceber suas proporções monstruosas. O gigantesco réptil avança para cima do trio com a bocarra aberta. Nela se notam os pedaços do corpo de Luk a se debaterem por entre seus dentes.
Eles se escondem por traz das árvores e o monstro não é capaz de segui-los devido o seu tamanho descomunal. Distantes, eles observam a criatura retornar de onde saíra para nadar até desaparecer nas profundezas.
Após perderem Luk, eles percebem que destino semelhantemente cruel as crianças poderiam compartilhar se não fossem encontradas logo. Correndo o mais afastados do lago que conseguiam, circundam-no, prosseguindo na direção na montanha. Algumas horas depois eles param de correr, pois grande já era a exaustão de todos, por mais que o medo lhes empurrasse para frente.
Os três descansam, cada um apoiado em uma árvore, sem trocar palavra alguma. Assim que se sentem seguros, deitam-se na folhagem seca.
Estheghual sonha. Imagina-se caçando com seu filho, ensinando-lhe tudo o que aprendera para ajudar na sobrevivência sua e de sua tribo.
Falando sobre as funções dos membros e como o papel de cada um, mesmo que pequeno, é crucial para o sucesso do grupo. Exatamente como fazem as formigas. Talvez pelo sonho, ele não percebe o que acontece com Makag, até ser tarde demais.
O braço dele está repleto de pequenos seres negros, que ele não sabe dizer se são realmente formigas.
Makag solta um grito de desespero ao mesmo tempo em que o líder sai do torpor. Tenta, em vão, livrar-se dos insetos, que insistem em cobrir seu corpo. Quando se levanta, é para perceber o colchão negro que forra seu arredor, movendo-se como uma massa viva, uma nuvem rastejante de morte. Os dois afastam-se dele, que se debate sem controle e grita clamando pela ajuda que seus companheiros não fazem idéia de como lhe dar.
Antes mesmo dos milhares de pequenos seres invadirem a boca de Makag, fazendo com que seus gritos se tornem um gargarejar macabro, os dois fogem, deixando-se abater pelo medo da certeza de que, se não saíssem logo dali, seriam os próximos a perderem a vida de maneira tão horrenda. Estheghual começa a perder as esperanças de encontrar seu filho e os outros, pois acredita que os perigos daquele lugar já recaíram sobre eles.
Foi Bareg quem avistou as peças de roupa espalhadas pela vegetação. Eram rastros dos pequenos. Encontrar suas vestimentas ali tornou ainda mais triste a constatação de que não voltariam mais com seus filhos.
Estheghual põe-se a chorar enquanto Bareg se ajoelha ao reconhecer o chale que cobria seu pequeno menino. Pobre criança que, de tão poucos meses, ainda era amamentada pela tia, irmã de sua falecida esposa.
Os dois escutam passos apressados vindo em sua direção. O companheiro se levanta, mas Estheghual sequer esboça reação. Fosse o que fosse, não lutaria mais. Foram tantas buscas, tantos dias de sono perdido e tantas lágrimas que convencer-se da morte de seu filho foi o golpe de misericórdia que o fizera desistir de viver.
Talvez por isso ele não reconhecera os risos das crianças que lhes cercam.
Bareg abraça e beija desesperadamente o seu pequeno filho. Outras crianças pulam ao seu redor, girando, rindo e dançando. Estão todas nuas, mas numa inocência por demais contagiante. Estheghual tenta contar o número e , de longe, percebe se tratar de muito mais crianças do que as que desapareceram da aldeia. Eram centenas.
Mesmo atordoado, ele procura por seu filho, Thothul, que esta parado, também sem roupa, poucos metros adiante. Apesar da tenra idade, era forte e de composição avantajada, como o pai. Lentamente, os dois se aproximam e ele cumprimenta seu filho colocando-lhe as mãos sobre os ombros.
Seu pai lhe questiona sobre o que acontecera, o jovem acalma-o dizendo que tudo estaria bem dali em diante e que ele sabia que viriam procurar por eles. Estheghual nota que seu filho aparenta ser o maior dentre eles e diz que está muito orgulhoso de Thothul por manter todos em segurança até sua chegada.
Thothul toma o pai pela mão e o leva a uma clareira, onde o número de crianças é ainda maior. Seu pai pergunta porque tantas estavam ali, mas obtém somente um riso de seu filho. O menino lhe explicou que nada de mal aconteceria às crianças. Que ali elas estariam seguras para sempre.
Estheghual vê Bareg andando com seu filho, que lhe guia pela mão, também para conhecer o local. Enebriado de felicidade, Bareg não se apercebe do fato de uma criança de poucos meses poder andar e se comportar daquela maneira. Ao tornar a olhar seu filho, Estheghual é tomado pelo assombro de ver que os pés do seu menino não tocam o chão. O sorriso do filho lhe hipnotiza, fazendo o pai deixar-se prender por outras crianças que, sorrateiramente, se aproximaram dos dois.
Com voracidade, dezenas de pequenos pulam em cima de Bareg, que mal tem tempo de esboçar qualquer coisa. Seus dentinhos cravam a carne em vários lugares ao mesmo tempo e, minutos depois, não resta nada além de ossos sujos, que são lambidos como se fossem seus dedos, após comerem uma fruta adocicada.
Thothul se dirige ao pai, dizendo que as crianças estavam seguras com ele e não haviam motivos para se preocupar. Somente aos adultos não é permitida a permanência em tão sagrado santuário. Ele agradece por trazer comida a todos. O pai nada consegue dizer, ainda mais quando se recorda da lenda que ouvia quando criança e que tanto lhe assustara.
Rindo, aquele que Estheghual não reconhece mais como Thothul conta que seu pai servirá de banquete para as crianças que ainda não comeram.
Elas se aproximam sorrindo e comemorando. Fazia muito tempo que nenhum adulto aparecia naquela terra. A terra encantada onde nenhum crescido é permitido andar e toda a criança pode viver para sempre. A última visão dele é o olhar do seu filho e o seu último pensamento é perceber que, finalmente, conhecera o horrível segredo de Gloshuguan-Thügon.

7 comentários:

  1. Um dos melhores que li,mas apelativo por ser mundo fantástico,que já gera um clima de terror,mas bem escrito,principalmente o final que gera um clima de terror tribal relembrando antigas civilizações que faziam rituais mortais aos seus deuses =)

    ResponderExcluir
  2. Eu acho que isso não é bem um conto. Parece um resumo de uma história maior. Contos têm menos personagens, e a ação é uma só, e mais curta. Também não gosto desses ridículos nomes que inventam, ou copiam de algum lugar. E como já falaram sobre ouro conto, também não me parece terror. Está mais para fantasia. Bem, fora isso, está muito bom. Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Eu achei este um dos melhores (meu preferido foi Sheol). Achei os nomes legais e gosto do clima que o conto cria. Achei o final meio apressado e, por isso, perdeu parte da força de assustadar ou impressionar. De qq modo, é o meu número 2 até agora. Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Você poderia elaborar melhor a descrição do começo. Dar uma enrolada, pular linha, enfim, sem correr.
    Ficou corrido o texto e meio confuso tambpem!

    ResponderExcluir
  5. Achei confuso também rs.
    Não da para entendem, uma hora a esposa morre, depois ela chora. tsc tsc
    Ainda não é meu favorito!

    ResponderExcluir
  6. Eu achei os nomes muitoo confusos, pq não colocar nomes em português e um ambiente descrito no Brasil? Oo
    Sem falar que os seus personagens não foram bem descritos e a trama, como falaram anteriormente é muito corrida e confusa!!

    ResponderExcluir
  7. é Tão Legal Postar como anônimo!
    Você pode falar bobagem que nem te confundem com um inapto a interpretação de textos... Porque eu descreveria no Brasil? Pra ficar mais fácil? Onde que a mulher morre e depois chora? Tem criticas que a gente aceita e acata, agora, falta de interpretação e leitura superficial a gente não pode considera, abstração total ^^v

    ResponderExcluir