sexta-feira, 29 de maio de 2009

ETERNA NOITE

A noite já ia alta quando a jovem mulher entrou na Rua XV. Olhava repetidamente o relógio e encarava a rua vazia. Precisava chegar rápido até a avenida ou perderia o ônibus. Só havia um jeito de fazê-lo: aventurar-se por um beco mal-iluminado, refúgio de pessoas misteriosas.

Estranhamente, o beco estava quieto demais. A jovem hesitou por um momento, então acelerou o passo e encarou o silêncio do beco. Do telhado de uma das construções um homem a observava. Um aroma leve e adocicado se espalhou pelo local. O homem inspirou por um instante e sorriu.

— Uma mortal... — disse o homem — linda e jovem.

A jovem andava mais rápido. A aflição tomava conta de seu peito. Se ela pudesse ver o futuro não teria escolhido esse trajeto nessa noite. Mal sabia a jovem que seu caminho cruzaria o de outras criaturas. Duas das mais vis criaturas que existiam desde o início dos tempos. Dois filhos da noite.

As luzes do beco apagaram-se, restando uma fraca luz lunar. A jovem parou subitamente, a aflição crescendo em seu peito. O homem surgiu diante dela. Era belo, envolvente. A pele clara, os cabelos presos em um rabo baixo, as vestes pretas e o casaco assemelhavam-no aos nobres europeus. Ele aproximou-se e cumprimentou-a com um gesto cortês.

— Olá bela mortal! Há muito tempo que espero ansioso teu retorno a esta viela maldita.

A mortal nada disse. Tentou desvencilhar-se do estranho, mas ele impediu-lhe a passagem. Tentou ir pelo outro lado e foi novamente impedida. Ficaram num impasse como se dançassem o minueto. O homem ria-se com o desespero da mortal. A mortal parou e encarou o homem. Virou-se para voltar para a Rua XV, mas o homem já estava na sua frente. A mortal tentou gritar e ele segurou-a pela garganta.

— Shhh... Não tenhas medo, bela mortal. Acalma-te e desfruta desse imenso prazer. — o homem aproximou a boca do pescoço da mortal, porém parou subitamente. Um doce e inconfundível aroma de flores dama-da-noite invadiu o beco. O homem sorriu discretamente.

— Guardas o prazer somente para ti? — disse uma voz às costas da mortal.

O homem levantou a cabeça e encarou a escuridão daquele beco. Tudo estava silencioso, mas ele sabia que havia mais alguém ali, e não era alguém qualquer. Ele reconheceria aquela voz, aquele perfume, em qualquer lugar, qualquer época. O perfume de dama-da-noite intensificou-se. O homem podia sentir o coração da mortal batendo forte em sua mão. Os olhos do homem agora eram vermelhos como sangue. Ele sorriu revelando seus caninos, presas mortais. O coração da mortal batia ainda mais acelerado.

— Não me digas que tens ciúme de uma mera mortal... — disse o homem, ainda sorrindo, para a escuridão. Um passo quase inaudível e a pouca luz da lua naquele beco revelou uma mulher jovem e bela. Ela trajava um vestido preto com luvas que chegavam ao cotovelo, como fora costume na iluminada Paris, tinha os cabelos negros e encaracolados chegando à cintura e olhos brasis que encantavam e amedrontavam. Ela aproximava-se do homem calmamente, encarando-o, prendendo sua atenção a cada passo. A mulher parou ao lado do homem. Os dois encararam-se, ignorando a existência da mortal. Não fosse o papel que ocupava naquele sinistro encontro, a mortal teria ficado fascinada.

— Não me compare a uma reles mortal, nem em teus pensamentos mais profanos ou sonhos mais sórdidos. — murmurou em uma voz tranquilamente ameaçadora — nenhuma delas comparar-se-ia a mim, mesmo que tivesse mil anos para fazê-lo. Nenhuma mortal, nem em cem vidas, é capaz de despertar nos tolos homens o que desperto em um olhar.

— Luxúria, Luxúria... És tão vil quanto sedutora. És, em fato, o próprio pecado em carne. Quão prazerosamente invades a alma dos homens e corrompe-lhes o coração e a mente.

— Nada faço aos míseros mortais além de despertar o que estes já possuem. Não é a mim que enxergam quando me olham, mas sim seus próprios pecados. — Luxúria aproximou-se mais do homem, acariciando-lhe o rosto — Só faço dar vida a seu lado mais sombrio, a parte de mim que habita em suas almas. Em verdade, meu irmão, os mortais não passam de fantoches movidos pelos desejos obscuros, os mais soberbos. Cabe a nós lhes despertar o lado que nos pertence, a parte de nós que nosso mestre escondeu neles e que os fazem existir. Somos anjos caídos, Orgulho. Belos e malditos em toda nossa essência. Nascidos do lado maldito do anjo mais belo. Somos o que rege a humanidade e sua existência. Orgulho, Luxúria, Ganância e Indolência... Os verdadeiros Senhores do Éden. Aqueles que o homem batizou de vampiros. — Luxúria beijou-lhe os lábios — Orgulho, meu vil irmão e doce amante... A mortal clama por tua atenção. Não a faça esperar, é deveras indelicado. Seja rápido, antes que vos vejam. Sabes onde me encontrar. Estarei esperando. — e desapareceu na escuridão, do mesmo modo que chegara.

— Desculpe minha indelicadeza. — disse Orgulho a mortal — Minha atenção é toda tua agora, bela mortal.

Um grito abafado ganhou a escuridão do beco.

4 comentários:

  1. Humm. Achei mediano... A palavra "mortal" está repetida tantas vezes no texto que chega a cansar. Apesar disto, o conto está bem-escrito!

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  2. odeio estórias de vampiros,só gosto de duas:

    Rose Red-Stephen King
    Por ser inesperado a vilã ser uma vampira.

    Crepúsculos-começa com s o nome dela.
    Por se tratar de um romance mesclado ao terror,mostrando que a mais estranha pessoa,tem sentimentos,no nosso mundo compararia aos que são descriminados por algum motivo,pois eles tbm tem sentimentos.

    MAS o seu conto tem um ponto muito interessante,mesmo eu odiando estórias de vampiros,dela falar que Vampiros são demônios,eu digo teologicamente isso é totalmente reprovado,para as igrejas seu texto pode até ser considerado uma blasfêmia =x,mas eu não sou uma igreja então adorei,gostei mesmo de dizer que o lord dos vampiros é Satanás,provavelmente se fosse uma história inteira de vampiros baseada nisso,entraria como a 3º história de vampiros que gosto,por causa dessa parte,um voto ao menos vc vai ter,o meu(pelo menos por enquanto),histórias que envolvem teologia me envolvem,a sua me envolveu.


    Agora tenho que ser crítico tbm,não achei ligação do título com a história em si,não dá mto certo eterna noite,só pq eles só dão as caras de noite.
    Se é um demônio ou vampiro,não é homem O.O
    E esse dialógo se encaixaria mais a um mortal,que é tantas vezes citado no texto,do que a outro vampiro que já sabe de todos esses fatos.

    Mas eu não acho superiores a outros contos,mas o elemento utilizado o tornou o melhor,na minha visão.

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  3. Não curti. Me pareceu um trecho de uma estótia maior, mas boa sorte!

    Lele

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  4. Me pareceu mais um prologo do que um conto! (isso é um elogio viu!)
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    Ainda assim eu senti a trama muito jogada e pouco explicada. Gostei da relação que envolve os personagens: luxuria e orgulho. Isso deu toque especial na trama. Não era só vampiros em busca de sangue. Contudo ainda pode-se melhorar e muito a história, porque ela tem um potencial bacana. (André Vianco que o diga - se você não o leu, eu recomendo - o livro SETE pode ser de seu interesse, apesar de eu VENERAR o livro BENTO).
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    Agora a parte ruim: o texto está muito amador com muitos erros de português! eu nem digo concordância verbal ou nominal. Digo: pontuação, repetição de palavras e etc.
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    Boa Sorte

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