terça-feira, 12 de maio de 2009

O CAÇADOR DE RÃS

Ele foi adentrando-se ao pântano, caçando rãs. Nunca havia ido tão longe de casa para cumprir tal intento. Tinha dias que voltava com muitas delas no samburá, mas hoje estava difícil arranjar uma só que fosse. E assim foi seguindo, cada vez mais à frente, mal conhecendo o caminho. “Vamos lá, só umazinha, apareça!”, pensava, enquanto iluminava o brejo com a lanterna.
Considerava a rã uma iguaria deliciosa, e havia marcado mais um jantar especial com os amigos. Comprar a carne congelada, nem pensar: era caríssima. O negócio era mesmo caçar. Antes era muito mais fácil encontrá-las do que nos últimos tempos, mas o desafio valia a pena: com as coxas podia fazer um requintado prato de rã assada com ervas, e depois comer com limão e maionese. Já com a carcaça, faria uma saborosa rã ao vinho branco. A mulher detestava, mas assim era melhor: sobrava mais para ele e os convidados.
A única parte chata era o abate e a limpeza dos animais. Era preciso dar um choque térmico neles, jogando-os em um isopor com gelo e sal grosso por dez minutos. A evisceração era um pouco desagradável, mas nada muito diferente do que se faz com um peixe depois de fisgá-lo.
Porém, antes de tudo isso, era preciso encontrá-las.
Com uma vara de pescar e um anzol minúsculo na linha, preparava uma pequena bolinha de sebo de carne como isca. Antigamente surgiam duas, três ou até quatro rãs disputando ao mesmo tempo. O que havia acontecido com elas nos últimos tempos, para sumirem assim?
Conforme o sol se escondia e ia dando a hora de voltar para casa, uma vontade enorme de continuar a caçada ia lhe tomando conta. Prometia só andar mais cinco metros, que logo se transformavam em dez e depois em quinze. Metade de si achava prudente ir embora e continuar a caçada outro dia, mas sua outra parte queria ficar e procurar mais. Foi no meio dessa dúvida que deparou-se com um fosso de água lodacenta, coberto por uma densa camada de vegetação aquática.
“Será aqui que vocês estão escondidas?”.
Antes que atirasse a isca na água, notou um misterioso brilho às margens do brejo, sob suas botas.
Curioso, voltou os olhos cuidadosamente para o chão e não pôde acreditar na sorte que lhe sorria. Encontrara uma bela moeda dourada, com a figura de uma coroa no centro. Depositou-a rapidamente no bolso da calça e olhou ao redor, em busca de outras. A poucos metros, o mesmo brilho reluzia no que restava do tronco de uma velha árvore. Outra moeda, igualmente preciosa, pendia em um sulco dele. “Estou rico!”, pensou.
Imaginando tratar-se do esconderijo de um tesouro, vestiu as luvas e enfiou o braço em um buraco do tronco, tateando suavemente seu interior em busca de mais moedas.
Enquanto sua mão tocava algo volumoso dentro do buraco escuro e seus olhos mal podiam esperar para verem o que sairia de lá, ouviu um som por demais estranho para aquela área, no meio da mata, onde geralmente há apenas gritos de pássaros e chiados de insetos. Parecia o barulho de uma espécie de engrenagem funcionando, que logo em seguida cessou, após um breve clique.
Um tanto preocupado, resolveu tirar logo seu braço de dentro do buraco, mas não conseguiu movê-lo. Tentou girar o pulso, relaxar os músculos e até usar a força. Mas nada adiantou: estava com a mão presa dentro do tronco.

O sol já se punha, e ele pensou na besteira que tinha feito ao não se contentar com as duas moedas que já estavam no bolso.
“Por favor, alguém me ajude!”, berrava.
Mas sabia que não havia ninguém por perto.
Suado, já sem saber como proceder para escapar dali antes que o autor da armadilha aparecesse, observava o pequeno lago à sua frente, onde haveria muitas rãs.
A água estava até borbulhando, de tantas que deviam estar ali no fundo.
“Isso ainda vai render um bom causo para contar nos próximos jantares, suas capetinhas”, pensava em voz alta. Custasse o que fosse para se soltar, ainda assim levaria as rãs para casa e se deliciaria com elas no próximo final de semana.
As borbulhas na água pareciam estar cada vez maiores e insistentes. Aos poucos, ondas circulares surgiram ao redor delas, anunciando uma misteriosa cabeça de um animal aquático que emergia.
Com o coração disparando, o caçador de rãs usou toda a força para se libertar e sair correndo o mais rápido que pudesse, pouco importando-se com os ferimentos que causava a sua própria mão.
A criatura saiu totalmente da água e mostrou que caminhava ereta, apoiando-se sobre duas patas. Tinha o rosto de um lagarto e todo o corpo revestido por escamas, coberto de lodo. Os dedos das mãos e dos pés eram unidos por aquela característica membrana presente nas patas de algumas espécies de anfíbios.
Agora transformado em presa, o homem gritava cada vez mais alto e esperneava. Irritado, o ser aquático lhe desferiu violento golpe com a cauda.

Levando a carne fresca para sua toca, Amphibia tentava decidir qual molho usaria desta vez.

4 comentários:

  1. nossa... a clássica cana da mão presa em algo desta vez ganhou um ambiente totalmente repaginado e sombrio - um pântano!

    adorei... sempre lendo seus contos.

    Blog Suicide Virgin ah, só um detalhezinho. gostaria de propor parceria do outro da qual sou membro agora. é um blog de humor negro. caso queira divulgação, entre em contato no link abaixo.

    Blog Man in the box vire um seguidor, e ganhe um seguidor!!
    bjs e sucesso!!!

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  2. Falar a verdade não me recordo muito bem deste,mas se trata somente de um monstro de um caçador que tomou um grande susto,quando ele morre é feito com molho ._.,sinceramente faltou mais elementos,mas o clima do conto é muito bom,muito mesmo,te envolve,foi muito bem escrito,só faltou mais história.

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  3. Eu achei o começo promissor e criativo mas, o final foi bem fraquinho... :(

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