sábado, 30 de maio de 2009

NOITE SEM LUA

Noite sem lua. Ruas carregadas de neblina. Numa noite como essa, parece que todos sumiram. Parece que não há ninguém na rua. Silêncio...

Uma mulher caminha cambaleante em meio à névoa. Parece perdida. Estaria alcoolizada? Solitária, caminha.

Era madrugada e a garota voltava de uma festa. Com apenas quinze anos, havia ludibriado os pais para poder sair à noite e havia ido a uma boate. Como primeira experiência na night foi traumática: luzes piscando, pessoas rodando na pista, agarrando-se...Tudo lhe pareceu muito insólito. Mais estranho ainda foi o rapaz que conheceu.

Um rapaz pálido, com ares vampirescos. Cabelos escuros, pele pálida, olhos baços, o moço era sério, diferente de seus colegas de escola. E mais velho também. Ela ficou impressionada com a delicadeza do moço. Em vez de agarrá-la como seus colegas de escola, conversou com ela, buscou-lhe bebida, preocupou-se com ela.

A garota ficou ao lado do moço, beijaram-se com delicadeza.

Próximo à meia-noite, a garota decidiu voltar para casa. O rapaz, gentilmente, propôs-se a acompanhá-la. A garota aceitou, mas explicou que ele só poderia ir até parte do caminho porque estava ali sem o consentimento dos pais.

Durante o caminho conversaram pouco. A garota, cautelosa, decidiu não dar muitos dados de si. O rapaz era lacônico por natureza. Caminharam quase em silêncio quando o rapaz convidou-a para ir ao seu apartamento ali perto. Prometeu-lhe respeitá-la, nada fazer que ela não desejasse. A garota teve medo, mas o desejo pelo desconhecido foi maior.

Ao entrar no apartamento, bateu-lhe no rosto um cheiro estranho, adocicado e quase indefinido: seria lixo em decomposição? Parecia algo apodrecendo, o que seria? O rapaz alojou-a no sofá da sala e desapareceu alguns minutos dizendo que ia para a cozinha buscar algo para beber. A garota olhou o apartamento e começou a sentir medo. Um medo inexplicável fazia o seu coração bater forte, a respiração ficar ofegante e ela sentia bolhas fazendo festa no seu estômago.

O sábio medo dizia à garota para sair correndo dali, mas ela estava paralisada. O rapaz voltou da cozinha com dois copos e lhe disse para nada temer que era apenas refrigerante. A garota constatou o gosto de Coca-cola, mas algo lhe dizia para beber bem devagar e de preferência não tomar tudo.

Ao primeiro gole a cabeça começou a rodar. Rodava tanto que ela achou que viu o rapaz rindo, gargalhando e seu rosto todo se deformava em uma máscara monstruosa. De repente, ela viu (ou pensou que viu?). Um armário na parede, a porta abriu-se (sozinha?). Vários corpos caíam de lá, corpos nus de garotas jovens, todas aparentando quinze anos, todas parecidas com ela, de cabelos escuros longos, magrinha, seios pequenos. Ela abriu a boca para começar a gritar, mas o grito não saía. O rapaz vinha em sua direção. Ela levantou-se e saiu correndo, a porta estava destrancada, conseguiu encontrar a escada e descer correndo, na maior velocidade que pode, sempre olhando para ver se o rapaz a seguia...Mas não, não havia ninguém atrás dela.

Alcançou a rua e continuou correndo, desesperada, a cabeça rodando. Na rua, a escuridão, a neblina, fazia que a situação ficasse ainda mais assustadora. Correndo, trôpega, conseguiu chegar ao metrô onde havia outras pessoas e ela se sentiu um pouco mais segura. O trem chegou e ela entrou, tremendo.

Acordou em sua cama quentinha, segura, limpinha. O medo lhe fez dar um salto.

7 comentários:

  1. olha eu já tive a idéia de terminar uma história assim com a pessoa acordadno quando tinha 8 anos,mas depois descobri que é um final clichê,e era uma história do tipo que se fosse livro duraria nada mais que uns 12 volumes(tamanho do tipo harry potter,antes se chamava Super Dan agora se chama Mitame),e os leitores iriam querer me matar,mas gostei da narrativa,só que não entendi pq ela começou a ver as coisas e conseguir fugir é algo inovador,embora tenha terminado com um clichê,normalmente ela teria morrido,então teve algo inovador,então equilibra,mas poderia ter sido um pouco maior.

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  2. Bom, o conto segue a estrutura dos contos fantásticos na linha de Borges e Júlio Cotázar. O final é aberto e pode dar a idéia de que não aconteceu nada, que a menina sonhou tudo, afinal adolescente é tão suscetível, né?

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  3. eu gostei do conto. assim como pode ter sido apenas um sonho, pode ter acontecido qualquer outra coisa que a garota não lembre. o terror feito de sangue as vezes também é cliche. Sugerir cria situações muito interessantes, o suspense, terror psicológico é meu favorito.

    Blog Suicide Virgin

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  4. Este conto faz-nos pensar... O que é mais assustador? As imagens negras que a nossa mente consegue criar? Ou a realidade para a qual somos arrastados todas as manhâs? Gostei muito do blog. parabens

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  5. Este conto, me lembra um clima do Jogo Silent Hill em alguns momentos, a narrativa é bem montada. Esses contos com finais que parece que estamos sonhando e no nos deixa a certeza do memso sempre me interessaram

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  6. Pela primeira vez nesse concurso, sou obrigado a dizer que não gostei! Desculpe mas acho que esse conto não mostrou a que veio.

    boa sorte

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  7. É um conto não tanto aterrorizante, é mais tranquilo porque a parte que dá medo mesmo não aparece. Gostei a partir do terceiro parágrafo: como é um texto curto e misterioso, é legal que "a garota" ou a cena não sejam apresentadas como aconteceu na primeira parte, e sim já inseridos como se o leitor já conhecesse (na minha opinião egoísta, claro :) ), isso dá um clima bem legal.
    O final é bom, gostei porque no início mostra a menina indo pra festa sozinha... e como ela vai sozinha, não há quem confirme se tudo aconteceu ou não. Dá a dúvida.

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