Depois da apunhalada pelas costas que levou dos seus, até então, amigos, Hernandes prometeu a si mesmo se vingar: – Isso não vai ficar assim! Vão se arrepender até a morte. E ele não estava brincando.
Traçou um plano um tanto quanto mirabolante, maquiavélico: a primeira FestHorror - uma festa à fantasia tipicamente horripilante, numa chácara bem distante de tudo e de todos, convidando especialmente os quatro amigos da onça: Hidelbrando, Mariana, André e Mari. Achando a ideia extraordinária, prontamente confirmaram presença naquela noite fatídica de sexta-feira 13.
Aquele que era para ser o dia festivo, o dia “D”, acordou extremamente merencório, sob as trevas, envolto por raios e trovões rasgando e faiscando os céus, ventanias e tempestades gelando e arrepiando a pele. O clima perfeito para a trágica FestHorror, esclipsado por um gigantesco manto negro que encobria, de ponta a ponta, toda a cidade.
Apesar de tudo – árvores partidas ao meio, casas destelhadas, famílias desabrigadas, enchentes, veículos arrastados pelas águas, fios de energia elétrica arrastando como cobra pelas calçadas e ruas – a empolgação era tão grande que todos estavam mais preocupados é com a fantasia que iam vestir do que com o tempo que fazia lá fora. Que trash!
Chegado o grande momento, nenhum dos amigos de Hernandes imaginava o que estava para acontecer. De carro, seguiram para a chácara já entornando o caldo durante o percurso e, lá chegando, amaram “de paixão” o que viram: um casarão completamente em ruínas, abandonado, às traças, empoeirado, cheio de teias de aranha, ideal para aquele que seria um memorável e horripilante acontecimento. Mal sabiam que Hernandes havia preparado, literalmente, a cama de cada um deles, já que haviam combinado dormir no local para que, no dia seguinte, curtissem, passeassem à vontade e conhecessem a região. Se é que realmente haveria o dia seguinte...
O som pegando pesado, comandado pelo próprio Hernandes; bebida vai, bebida vem e eles nem aí com o fato de que não tinha mais ninguém naquela festa além dos cinco: Hernandes, Hildebrando, Mariana, André e Mari. Talvez estivessem pensando que foi por causa do temporal.
Passaram duas, três da manhã e a birinaite ainda continuava rolando solto. Rolando também estavam os dois casais amigos de Hernandes pelos cantos escuros da casa. A libido exaltada, os beijos gosmentos e exagerados, os corpos em brasa se entrelaçando, os dois jovens penetrando pelas teias adentro das aranhas das suas amadas. Cada movimento era meticulosamente observado pelo sóbrio e rancoroso e ardiloso Hernandes, que pensava com seus botões: – Vocês me pagam. Me aguardem.
De repente, o vai-e-vem das biritas cessou simultaneamente ao som. Batendo palmas tresloucadamente, Hernandes grita: – Galera, galera, é melhor a gente ir dormir. Amanhã, digo, hoje o dia promete. Vamos lá para os nossos quartos.
Eufórico e inebriado e tropeçando nos próprios pés, Hidelbrando grita: Uhhhhúúúú!!!! E completa: o último que cair na cama faz o café da manhã; puxando rapidamente Mariana pelo braço. Para não ficar atrás, André faz o mesmo com Mari. E lá se foram eles – correndo e cambaleando e sorrindo e falando asneiras – para aquele que seria o sono eterno, o sono de morte, pois Hernandes, vingativamente, trocara as tradicionais camas confortáveis e macias pelas tenebrosas de faquir, onde seus mais de quatro mil pregos longos e pontiagudos, cobertos por um fino lençol branco, cuidaram de cada um deles, perfurando o coração de Hidelbrando, o pulmão de Mariana, o estômago de André, os olhos de Mari.
E o sábado despertou tétrico, lacrimejando sangue, velado por Hernandes que, rodeado de coroas de flores e homenagens, disfarçou muito bem a sua alegre angústia pela perda dos grandes e queridos e bons amigos. Entre aspas, uma verdadeira e deliciosa dor de prazer pelo que fez.
[red]Apunhalada Pelas Costas[/red]
ResponderExcluir[i]Depois da apunhalada pelas costas que levou dos seus, até então, amigos, Hernandes prometeu a si mesmo se vingar: – Isso não vai ficar assim! Vão se arrepender até a morte. E ele não estava brincando.[/i]
Que tipo de apunhalada? Física? Moral?
[i][...]sob as trevas, envolto por raios e trovões rasgando e faiscando os céus, ventanias e tempestades gelando e arrepiando a pele.[...][/i]
Achei essa parte muito interessante.
Ao ir caracterizando o ambiente o autor ia me colocando dentro da história. Cheguei até a sentir o "ambiente frio" do lugar...
[i]Que trash![/i]
Esse comentário espontâneo do autor me fez dar umas boas risadas... [:D]
[i]birinaite[/i]
?!... [:P]
[i][...]os dois jovens penetrando pelas teias adentro das aranhas das suas amadas.[...][/i]
hauahauhauh
Me permita te copiar, querido autor(a)!
Que trash! [:D]
Sobre a cama de faquir:
Ela é tão pontiaguda assim? Como foi a "queda" das personagens sobre ela? E se a queda não fosse forte... também seriam perfurados daquele jeito? Foi uma perfuração rápida ou lenta?
[i][...]perfurando o coração de Hidelbrando, o pulmão de Mariana, o estômago de André, os olhos de Mari.[/i]
O autor poderia ter explicado melhor do que foi que eles morreram... Por exemplo, no caso da Mari: ela morreu por ter os olhos furados?
huehehu
Mas que burra: pulou com a cara na cama!
Que trash! [:D] hauhauahuahauhua
Enfim... O autor soube descrever muito bem o local onde eles estavam, o ambiente etc... Mas poderia ter melhorado em alguns aspectos, como ter explicado melhor do que foi que "os quatro amigos da onça" morreram.
E aquele comentário no meio da narrativa: [i]Que trash![/i]... Deixou a narrativa num "tom humorístico" a maior parte do tempo... rsrsrs... Pelo menos pra mim...
O terror mesmo só veio quando eu fiquei tentando imaginar como era que aquela cama de faquir agia... assim como na perfuração dos órgãos... hehehe
O conto não está ruim. Mas me soou meio humorístico... [/)]
a omissão de certas coisas foi proposital, para criar isso que provocou em você... queria deixar o leitor pensando, sem muitas explicações... lá no final...
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