segunda-feira, 15 de junho de 2009

APUNHALADA PELAS COSTAS

Depois da apunhalada pelas costas que levou dos seus, até então, amigos, Hernandes prometeu a si mesmo se vingar: – Isso não vai ficar assim! Vão se arrepender até a morte. E ele não estava brincando.

Traçou um plano um tanto quanto mirabolante, maquiavélico: a primeira FestHorror - uma festa à fantasia tipicamente horripilante, numa chácara bem distante de tudo e de todos, convidando especialmente os quatro amigos da onça: Hidelbrando, Mariana, André e Mari. Achando a ideia extraordinária, prontamente confirmaram presença naquela noite fatídica de sexta-feira 13.

Aquele que era para ser o dia festivo, o dia “D”, acordou extremamente merencório, sob as trevas, envolto por raios e trovões rasgando e faiscando os céus, ventanias e tempestades gelando e arrepiando a pele. O clima perfeito para a trágica FestHorror, esclipsado por um gigantesco manto negro que encobria, de ponta a ponta, toda a cidade.

Apesar de tudo – árvores partidas ao meio, casas destelhadas, famílias desabrigadas, enchentes, veículos arrastados pelas águas, fios de energia elétrica arrastando como cobra pelas calçadas e ruas – a empolgação era tão grande que todos estavam mais preocupados é com a fantasia que iam vestir do que com o tempo que fazia lá fora. Que trash!

Chegado o grande momento, nenhum dos amigos de Hernandes imaginava o que estava para acontecer. De carro, seguiram para a chácara já entornando o caldo durante o percurso e, lá chegando, amaram “de paixão” o que viram: um casarão completamente em ruínas, abandonado, às traças, empoeirado, cheio de teias de aranha, ideal para aquele que seria um memorável e horripilante acontecimento. Mal sabiam que Hernandes havia preparado, literalmente, a cama de cada um deles, já que haviam combinado dormir no local para que, no dia seguinte, curtissem, passeassem à vontade e conhecessem a região. Se é que realmente haveria o dia seguinte...

O som pegando pesado, comandado pelo próprio Hernandes; bebida vai, bebida vem e eles nem aí com o fato de que não tinha mais ninguém naquela festa além dos cinco: Hernandes, Hildebrando, Mariana, André e Mari. Talvez estivessem pensando que foi por causa do temporal.

Passaram duas, três da manhã e a birinaite ainda continuava rolando solto. Rolando também estavam os dois casais amigos de Hernandes pelos cantos escuros da casa. A libido exaltada, os beijos gosmentos e exagerados, os corpos em brasa se entrelaçando, os dois jovens penetrando pelas teias adentro das aranhas das suas amadas. Cada movimento era meticulosamente observado pelo sóbrio e rancoroso e ardiloso Hernandes, que pensava com seus botões: – Vocês me pagam. Me aguardem.

De repente, o vai-e-vem das biritas cessou simultaneamente ao som. Batendo palmas tresloucadamente, Hernandes grita: – Galera, galera, é melhor a gente ir dormir. Amanhã, digo, hoje o dia promete. Vamos lá para os nossos quartos.

Eufórico e inebriado e tropeçando nos próprios pés, Hidelbrando grita: Uhhhhúúúú!!!! E completa: o último que cair na cama faz o café da manhã; puxando rapidamente Mariana pelo braço. Para não ficar atrás, André faz o mesmo com Mari. E lá se foram eles – correndo e cambaleando e sorrindo e falando asneiras – para aquele que seria o sono eterno, o sono de morte, pois Hernandes, vingativamente, trocara as tradicionais camas confortáveis e macias pelas tenebrosas de faquir, onde seus mais de quatro mil pregos longos e pontiagudos, cobertos por um fino lençol branco, cuidaram de cada um deles, perfurando o coração de Hidelbrando, o pulmão de Mariana, o estômago de André, os olhos de Mari.

E o sábado despertou tétrico, lacrimejando sangue, velado por Hernandes que, rodeado de coroas de flores e homenagens, disfarçou muito bem a sua alegre angústia pela perda dos grandes e queridos e bons amigos. Entre aspas, uma verdadeira e deliciosa dor de prazer pelo que fez.

2 comentários:

  1. [red]Apunhalada Pelas Costas[/red]
    [i]Depois da apunhalada pelas costas que levou dos seus, até então, amigos, Hernandes prometeu a si mesmo se vingar: – Isso não vai ficar assim! Vão se arrepender até a morte. E ele não estava brincando.[/i]

    Que tipo de apunhalada? Física? Moral?

    [i][...]sob as trevas, envolto por raios e trovões rasgando e faiscando os céus, ventanias e tempestades gelando e arrepiando a pele.[...][/i]

    Achei essa parte muito interessante.
    Ao ir caracterizando o ambiente o autor ia me colocando dentro da história. Cheguei até a sentir o "ambiente frio" do lugar...

    [i]Que trash![/i]

    Esse comentário espontâneo do autor me fez dar umas boas risadas... [:D]

    [i]birinaite[/i]

    ?!... [:P]

    [i][...]os dois jovens penetrando pelas teias adentro das aranhas das suas amadas.[...][/i]

    hauahauhauh
    Me permita te copiar, querido autor(a)!

    Que trash! [:D]

    Sobre a cama de faquir:

    Ela é tão pontiaguda assim? Como foi a "queda" das personagens sobre ela? E se a queda não fosse forte... também seriam perfurados daquele jeito? Foi uma perfuração rápida ou lenta?

    [i][...]perfurando o coração de Hidelbrando, o pulmão de Mariana, o estômago de André, os olhos de Mari.[/i]

    O autor poderia ter explicado melhor do que foi que eles morreram... Por exemplo, no caso da Mari: ela morreu por ter os olhos furados?

    huehehu

    Mas que burra: pulou com a cara na cama!

    Que trash! [:D] hauhauahuahauhua

    Enfim... O autor soube descrever muito bem o local onde eles estavam, o ambiente etc... Mas poderia ter melhorado em alguns aspectos, como ter explicado melhor do que foi que "os quatro amigos da onça" morreram.
    E aquele comentário no meio da narrativa: [i]Que trash![/i]... Deixou a narrativa num "tom humorístico" a maior parte do tempo... rsrsrs... Pelo menos pra mim...
    O terror mesmo só veio quando eu fiquei tentando imaginar como era que aquela cama de faquir agia... assim como na perfuração dos órgãos... hehehe
    O conto não está ruim. Mas me soou meio humorístico... [/)]

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  2. a omissão de certas coisas foi proposital, para criar isso que provocou em você... queria deixar o leitor pensando, sem muitas explicações... lá no final...

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