terça-feira, 16 de junho de 2009

A CIDADE ONDE VIVEM OS MORTOS

Sabe,Eu já estive ai,como você nessa situação...Não precisa gritar,você precisa entender que vivemos muito bem assim,Eu vou te contar minha história enquanto o sol não nasce,pare de chorar e escute...

“Eu estava farta da minha rotina,você já sabe meu nome,eu me chamo Cristina e sempre vivi com meu pai,mas nos últimos anos tive que morar com a minha mãe.Como eu sentia falta do meu pai,não que eu não amasse minha mãe,não era isso.Eu sentia falta de um lar,quando meus pais se separaram eu era muito pequena,mas sabia que desde então minha mãe trabalhava viajando pelo país para ganhar a vida.Minha mãe era uma pessoa adorável e sempre dedicou todo seu tempo livre para me dar atenção.Ela era representante de uma grande rede de lojas,assessorava e vendia franquias pelo Brasil,por isso não se demorava mais que 6 meses em uma cidade,ela conhecia vários lugares e fazia novas amizades por onde passava,mas nunca criava raízes em lugar nenhum.

Era assim que eu estava vivendo nos últimos 3 anos,passava 6 meses em uma escola,depois desse tempo,tinha que viajar e me matricular em um outro colégio.Você deve imaginar que tudo era muito difícil,pois eu não era tipo um de jovem muito entrosada –não herdei isso da minha mãe-e demorava muito para fazer amizades.Não que eu fosse fresca,não,eu não era metida,eu só era muito tímida.A distância fez com que eu perdesse o contato com meus amigos de infância e aos 17 anos era uma garota isolada.A única coisa que me impedia de entrar em um profundo estado de depressão era o fato,de apesar de tudo, eu ser uma pessoa muito forte,eu tinha plena consciência da minha situação e esse conhecimento era útil para afastar os fantasmas da loucura em meio a solidão.

Até que no verão de 2004 eu e minha mãe chegamos a esta pequena, na verdade minúscula cidade,Santa Agatha.Você sabe que este município é daqueles tão afastados e tão pouco habitados que se tem a sensação de que se esta esquecida por Deus.Era realmente um projeto louco,mas foi o trabalho dela que nos atraíram para este fim de mundo.Antes de ouvir minha mãe falar, eu jamais imaginara que pudesse existir um lugar como este, dentro do estado de São Paulo.

Santa Agatha tinha a incrível população de 2500 habitantes,que vivem em sua maioria ainda mais isolados.Você sabe que alguém teria que fazer uma caminhada se quisesse visitar seu vizinho.O centro da cidade é a praça,que contava com todos os atendimentos que são essenciais para se dizer que isto é um município,tudo como você já conhece.O posto médico,a sede da prefeitura,e suas pequenas lojas que faziam o comércio local.A cidade também tinha a pequena escola e o cemitério que estamos agora.Não comece a chorar logo você vai ver que tudo está certo...

A nossa casa é grande para duas pessoas sabe,mas não tínhamos muita escolha, ela fica logo ali e se eu andar demais seguindo pelo quintal dos fundos,venho parar aqui,no Cemitério que era exatamente como vemos hoje,sem tirar nem por.Aqui é tudo sempre igual.

Foi em meio a lamentações,que na segunda-feira de manhã me levantei para meu primeiro dia de aula na pequena escola,eu realmente não tinha gostado daqui.Era como se a cidade passasse a impressão de estar abandonada há muito tempo...

Entrei na sala de aula apostando comigo mesma quantas pessoas teriam a minha idade nesta cidade esquecida pelo tempo,me surpreendi ao encontra na sala um único garoto.Por mais que eu achasse que a cidade era pequena, uma pessoa na sala era um absurdo concorda?Que cidade é esta?Onde estão as pessoas?Era isso que eu pensava.A pequena professora também estava presente e não parava de escrever no quadro negro,só virou a cabeça por um momento para dizer que me sentasse e começasse a copiar a matéria.Você sabe como é o temperamento da senhorita Ana.

Olhei diretamente para o garoto.Nossa mais que olhos estranhos,eles eram de um azul tão pálido,eram quase de um tom cinza sem vida.Mas fora isso ele era lindo.Tinha a pele branca como se nunca tivesse visto o sol,seus cabelos eram loiros e se acentuavam perfeitamente formando um conjunto de estranha beleza.

Me adiantei e sentei ao lado do garoto e ele me cumprimentou “Meu nome é Erick e o seu?” Eu quase gaguejei para dizer meu nome e ele riu.Criei coragem e perguntei se não tinha mais ninguém da nossa idade na cidade,ele ainda não tinha tirado os olhos de mim e isso me deixava ainda mais constrangida.

Ele respondeu que existia outra escola perto de uma fazenda que era mais próxima para a maioria dos outros alunos.Fiquei vermelha,“Erick” o nome já viajava na minha mente,eu nunca tinha tido um namorado sério e me achava estúpida por achar que teria agora.Em seis meses eu estaria fora desta pequena cidade e provavelmente nunca mais o veria depois disso.

O tempo foi passando e a cada dia eu me apaixonava por Erick, e em menos de um mês eu já estava namorando.Passávamos o tempo todo juntos,líamos até livros juntos. Eu realmente o amo sabe...

Mas na época já estava começando a ficar preocupada com minha mãe,ela sempre foi uma mulher muito ativa, independente e de idéias próprias,mas ela tinha mudado da água para o vinho, tinha decidido que não íamos mais nos mudar.Eu fiquei até feliz por poder finalmente ficar em um lugar só e poder ficar com Erick,mas esse comportamento era muito estranho e quando questionei minha mãe sobre os motivos ouvi uma coisa que já estava me deixando intrigada,e que só agora compreendo...

“Para que mudar,estamos tão bem assim”

Eu ouvia isso em todo lugar sempre que o assunto envolvia uma alteração na rotina do lugar.Sempre a mesma frase sobre tudo “Para que mudar,estamos tão bem assim”.Assim como você,mas logo você vai entender... Não adianta chorar...

Nada adiantava,qualquer mudança sugerida era recebida da mesma maneira,nada era novo,e até para uma cidade pequena aqui nada acontecia.Nas ruas todos os dias as mesmas pessoas, nos mesmos horários,na escola toda semana se voltava à mesma matéria,em casa minha mãe tinha começado a seguir a risca um cardápio semanal que nunca mudava.Tudo aquilo estava me deixando louca,tinha notado até uma mudança na aparência da minha mãe,antes seus olhos antes eram verdes e cintilavam alegria agora eles tinham o mesmo tom azul- acinzentado.Na verdade comecei a notar que todos na cidade tinham o mesmo olhar vago e sem vida.Eu já estava começando a ficar com medo e apesar de amar muito Erick,já estava torcendo para que minha mãe mudasse de idéia e nós fôssemos embora o mais rápido possível.

Uma vez até perguntei ao Erick se ele já tinha notado o olhar das pessoas e o que ele me disse provocou arrepios na minha espinha.“Você devia parar de procurar as coisas,pra que mudar,vivemos tão bem assim”Agora eu sabia que tinha algo errado naquela cidade,e o que quer que fosse,tinha afetado minha mãe também.

Eu estava transtornada demais,não entendia o que estava acontecendo,sai de casa no meio da noite decidida a dar uma volta para espairecer meus pensamentos,sai pela porta dos fundos e sem querer já estava caminhando aqui,por este mesmo cemitério.Eu nunca tive medo de fantasmas mas os acontecimentos vividos na época fizeram com que minha imaginação estivesse mais fértil que o normal.A única coisa que fazia com que eu continuasse caminhando era meu próprio orgulho bobo,odiava admitir,até para mim mesma que estava com medo.Se não fosse isso já voltado pra casa.

Caminhei, até que cheguei na parte mais recente do cemitério,bem ali atrás eu parei para ler alguns nomes nas lápides,na verdade não queria ficar muito longe da minha casa, eu ia dar uma volta por ali e voltaria pra casa como se nunca tivesse estado com medo de um cemitério.Que idéia sair caminhando à noite não acha?E ficar com medo de um monte de túmulos, o que os mortos poderiam me fazer? Nada!Pelo menos, era isso que ela achava até ver a foto da bibliotecária em uma das sepulturas.

Meu coração começou a galopar no peito, eu dei dois passos para trás e reli o nome gravado.Era ela mesma “Ângela Batista”você a conhece não é?Pessoa adorável... Achei que estava louca de vez,olhei o próximo tumulo e tomei um novo susto, dessa vez era a foto e o nome do dono da mercearia,quando comecei a raciocinar percebi que a cidade toda estava enterrada neste cemitério!As informações entravam e se amontoavam.Eu não conseguia tirar uma conclusão daquilo tudo que eu estava vivendo.Levantei a cabeça, não queria mais ficar olhando para as lapides das pessoas que eu tinha convivido a mais de 7 meses,tudo parecia um grande pesadelo,só queria acordar de tudo isso.Mas quando levantei minha cabeça vi na última fileira de túmulos um muito recente e uma cova aberta.Minha curiosidade foi maior que meu bom senso,eu queria saber de tudo.Tudo que esta cidade escondia,queria saber de tudo antes de fugir daqui para nunca mais voltar.Eu já tinha uma idéia do que ia encontrar, mas precisava ter certeza,na verdade estava com esperança de estivesse enganada.

Mas eu não estava,era uma cova muito recente,a grama ainda nem tinha crescido o suficiente para esconder a terra fofa,ali estava à foto da minha mãe...O nome dela e a data de dois meses atrás.Eu chorei,não sabia o que tinham feito com a minha mãe,mas tinha certeza que planejavam fazer o mesmo comigo, por que ao lado,na cova aberta, eu viu meu próprio tumulo. Na foto meu olhar era azul- acinzentado,era um olhar morto.Agora eu já sabia por que a cidade era sem vida, por que tudo era igual...Todos estavam mortos...Mas eu não ia ficar ali, não ia esperar ninguém tentar me matar,eu iria embora daquela cidade maldita naquela mesma hora.

Sabe...Eu teria feito isso se o tumulo ao lado do meu próprio não tivesse me chamado tanto a atenção... Ali sepultado estava a pessoa que eu julgava amar.

“Erick Medeiros 1973-1990” Aquilo me abalou literalmente, eu tropecei nos meus pés e cai no buraco ao lado... Nossa você pode imaginar meu desespero? Acho que você pode... me diga se não é a mesma situação? Eu comecei a gritar como uma desesperada que eu era naquele momento, percebi que para minha falta de sorte, aquele tumulo tinha bem mais que sete palmos de profundidade,não consegui subir, tentei me segurar em uma raiz mas foi inútil, continuei gritando até não te mais forças em meus pulmões, depois me sentei e chorei, chorei até não ter mais lagrimas... O sol já estava nascendo quando eu pude ouvir som de pessoas se aproximando, elas não falavam, mas eu podia sentir que estavam se aproximando até que vi as cabeças, uma a uma, apareciam para me olhar, aqueles olhos mortos me observando não fizeram bem para a minha coragem e logo comecei a gritar de novo... Gritei até que vi minha mãe naquela pavorosa multidão, ai comecei a chorar e chamar por ela, ela me olhava como se eu não fosse sua filha e ela estava certa, minha mãe não era ela, naquele momento tive certeza que minha mãe estava morta.

Finalmente alguém disse uma palavra em meio aos meus gritos, era ele, Erick... E por um momento achei que ele fosse me tirar dali, mas eu estava enganada, ele só me disse uma única frase, antes de todos começarem a me enterrar viva.

“Você não vai mudar meu amor... vivemos tão bem assim”

No outro dia acordei com o sol batendo na minha janela, e sorri. O sono não era reconfortante mais eu estava bem assim, a escola também... Eu já sabia tudo, mas não vi motivos para mudar, não precisava saber de mais nada que já não sabia... Erick sempre vem me visitar depois da escola e eu o amo, poderíamos nos casar, mas não existe motivo para isso. Aqui, nessa cidade onde o sol não aquece, mas também não queima. Onde a vida não muda, mas também não machuca. Onde o amor nunca morre, mas também não renasce. É aqui que eu vivo minha morte com quem eu amo... Pois a morte é assim, estagnada... E eu descobri que vivemos tão bem assim... Logo você também vai perceber isso... O Sol já esta nascendo, e todos estão chegando... Não chore, eu serei sua amiga e logo seu namorado também vai entender que vivemos na cidade onde vivem os mortos.

5 comentários:

  1. Mais que demais esse texto!
    Agora estou sentindo um misto de euforia com vontade de ler-te mais!
    Que maravilha é a forma como vc escreve, ainda mais pra mim que faço teatro,vc num sabe o quanto me fascina esse tipo de história!

    Tá de parabéns, ganhaste mais uma seguidora!

    Mil beijinhos,
    Cris.

    P.S.: Vai lah no meu blog, tem um selinho pra vc.

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  2. Conto "teen" e cheio de erros de português! Não gostei!

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  3. Apesar dos erros, que são poucos se comparados com outros contos do concurso, achei legal. Não acho que seja teen, a história apenas mostra o ponto de vista de uma adolescente, e com sutileza, sem exagero.

    Parabéns!

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  4. concordo... não me parece um conto teen, só um ponto de vista mesmo, diferente dos outros por isso... gostei do final e de como a morte foi descrita...
    parabéns!

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  5. Realmente há alguns erros de português mas o conto é ótimo. Não tem nada de terror "teen". Quem criticou deve ter feito uma leitura muito superficial.

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