sábado, 6 de junho de 2009

COLEÇÃO

>>> Amaram-se por três vezes quase ininterruptas. Eram incansáveis e, pior, não se satisfaziam pelo mero orgasmo explosivo. Ardiam pela integração dos corpos no carinho que vinha após. Abraçavam-se, acariciavam-se os rostos arfantes e ainda encontravam tempo para sussurrarem quaisquer desmesuras que soassem convenientes. Enfim, amavam-se.
Quando ele parecia pronto para dormir, ela se levantou. Caminhou nua até a roupa espalhada pelo chão, apanhou um cigarro e um isqueiro. Era um hábito. Ela sempre fumava, depois do sexo. Da cama, admirou sua silhueta, a soltar na varanda bolhas de fumaça. Perfeita. Não conseguia delimitar falha alguma em seu corpo. E isso sequer o preocupava. O que havia entre eles era forte demais para que isso tivesse importância.

.retorno havia Não ...agora que Só .vezes outras nas fizera o como ,final momento daquele antes, aproveitar a muito Tinham .ficar que tinha Ela .ainda ir podia não ela ,maneira miraculosa qualquer de ,forma alguma De .incompletos e vividos mal sentimentos de jorros mas ,saudoso abandono ao entregue ,fica quem de vil sofrimento do lágrimas eram Não .Chorou ...daquilo antes ,juntos construirem para ainda histórias tantas Tinham !demais cedo fora se Ela . rápido tão acontecessem coisas as que esperava não Mas .comum dia naquele amara a como era pensar conseguia que em coisa única A .falta muita faria Ela .saudades sentia Já .sombrio rosto seu iluminando acidentalmente ,rítmico modo de apagavam e acendiam farois Os .verão de grossa chuva na ensopava se ,perceber sem ,e ,velozmente passavam que carros aos meio em encontrava se Não .mochila preciosa sua carregando ,desespero de escura rua pela lentamente caminhava Mário <<<

>>> Depois de tragar toda a nicotina, ela retornou à cama, deitando sobre seu peito, arqueando as coxas volumosas em seus braços, e disse:
“Tenho de ir, meu amor”
“Não me esqueça” foi a única e mais idiota frase que ele conseguiu formular.
“Como eu poderia esquecer você?” ela perguntou, expondo um sorriso malicioso e, sem outras palavras, se ergueu. Cobriu-se do vestido vermelho e saiu pela porta com a mesma frivolidade apaixonada com que entrara.

.envolveu o que aquáticas bolhas de vórtex do dentro cor a perdendo ,mergulhar até ar no girou objeto O .segurava que aquilo força sua toda com arremessou e corpo o girou ,extasiado ainda ,Trêmulo .sórdida noite pela enegrecidas ,rio um de volumosas e límpidas águas as corriam qual do abaixo ,píer um em Parou
.chuva de gotas das diante brilhava que coisa alguma Segurava .fechados mãos das uma de dedos os mantinha e ,mente própria da além havia que tudo de se-Ignorava .postes dos bruxuleantes luzes as com despreocupado ,temporal ao insolúveis ruas por Corria <<<

>>> Enquanto caminhava na chuva, cercada da própria beleza mística, ela observava cuidadosamente um homem, um pouco à distância. Ele vestia terno, levava consigo uma pasta negra e mantinha um olhar desconfiado; saiu de um prédio, olhando em volta, talvez para se certificar de que ninguém o acompanhava, e se aproximou de um carro escuro.
A mulher, ainda iluminada do vermelho relampejante da roupa, que colava no corpo molhado, e ainda mais rubra por seu rosto cristalino, se aproximou furtivamente do carro. Aguardou até que o homem estivesse pronto para entrar, e então o surpreendeu.
“O que você faz aqui?” ele perguntou.
Ao invés de responder logo, ela lhe puxou a gola do paletó, trazendo-o para perto de si.
“Não estava mais aguentando de saudades, meu amor”
Beijou-o com lábios amargos de um falso desejo. Ele a tomou nos braços, encarando-a com um olhar saudoso, e respondeu:
“Também estava com saudades. Essa viagem longe de você me deixou louco”
“Imagino que sim... Deve ter aproveitado para dormir com alguma mulher fácil”
“Você sabe que eu nunca faria isso. E você, se comportou?”
“Passei todos esses dias em casa, esperando a hora em que você retornaria pra cuidar de mim. Fico tão solitária quando você viaja!”
“Não se preocupe, seu marido chegou” sussurrou, beijando-lhe o pescoço ternamente.

.bem tão fizera o dia um por que maravilhosa mulher da olhar o com despedir se para ,vez última uma rosto o Voltou .olhos nos lágrimas ,afastar se a Começou .ali deixaria não mas ,queria que a era Não .dedos os entre força com a-segurando ,aliança a Apanhou
.Esquecida .lado um de caida ,brilhante ,aliança a Viu .morte na mesmo até imponente ,chão ao despencar corpo o Deixou .deteve se mas ,chorar Quis .mais tentasse que impediu o sórdida pele daquela indiferença A .mais vez uma viva la-senti Queria .seu do peito o lhe-aproximar Tentou <<<

>>> Depois que arrancou o paletó pesado e tomou um banho relaxante, ele voltou para o quarto, onde ela o aguardava. Deitada na cama, ainda com o vestido vermelho, mantinha uma expressão furtiva. Apesar de tamanha sensualidade, algo nela era incompatível. Ela não parecia tão disposta, como lhe dissera, ou como fora em outras tantas vezes durante os meses de união.
Aproximou-se, seminu, e se precipitou para o colchão, onde foi recebido com um abraço atencioso, mas não sôfrego como esperaria. Ela o beijou com força e sem desejo, abraçou-o com carinho e sem paixão. Indiferente aos detalhes mínimos, ele se deixou tomar por aquele corpo picante que tanto amava. Apoiou as mãos na cama e começou a desenfrear os próprios limites. Mas parou.
Afastou-se dela, por alguns segundos. Ela o observou, sem entender. Ele ergueu uma das mãos, trazendo entre os dedos algo que, no primeiro olhar, ela não identificou. Depois, sentiu um arrepio ao ver que ele erguia um pacote aberto de preservativo. O erro máximo. Cometera o maior dos deslizes. Com medo, girou os olhos para ver a expressão do marido. Primeiro, surpresa. Depois, tristeza. Por fim... Fúria. Ele respirou fundo duas vezes, acalmou a voz e sibilou:
“Quem você trouxe pra nossa casa?”
Ela não respondeu, talvez procurando as palavras que pudessem justificar o que não faria sentido.
“Quem você amou na nossa cama, ao invés de mim?”
Ela gaguejou:
“Eu... Eu não o amei”
Ele lhe bateu no rosto com a mão cheia de ódio.
“Como você pôde fazer isso? Como pôde ser uma puta desse jeito? Eu lhe dei tudo! Eu lhe dei uma casa. Eu lhe dei joias e roupas. Eu lhe dei presentes. Fiz de você uma mulher de respeito... Eu lhe dei amor! Eu lhe dei tudo que qualquer puta no mundo sonharia ter! Mas agora... Está vendo isso aqui? Não é nada!” ele gritou, jogando fora a aliança que estava no dedo. “Por que você fez isso?”
“Eu tive que fazer!”
“Por quê?!”
“Você não estava aqui!”
Ele espremeu entre os dedos o pescoço dela, transferindo toda a revolta para a força com que apertava. Ela chorava, buscando no vazio um pouco de ar, mas a compressão impedia que o oxigênio chegasse aos pulmões.
“Eu poderia matar você agora, sabia? E ninguém iria descobrir! Seria só mais uma maldita puta assassinada no mundo, e todas as mães de família estariam satisfeitas”
Sem forças, sem conseguir respirar, os lábios tremeram, para tentar dizer as últimas palavras:
“Eu... te... amo”

.inesperado sido houvesse ato o se como ,rubros lábios os lhe-cobria sorriso meio Um .impassíveis e límpidos ainda ,entreabertos estavam olhos Os .volumoso peito no encravada ,faca da bruxulear ao meio em apagara se sagaz rosto seu enquanto ,borbulhante sangue do manchas as escondia vermelho vestido Seu
.caminho seu encontrasse que para torcer restava lhe agora ,acontecera já pior O .podia Não .coisa alguma mais de la-protegê pudesse assim se como ,corpo o lhe-abraçou ,forma qualquer De. vida sem porém ,quente ainda corpo do diante sentia que o dizer bem saberia não ,momento Naquele .sangue de úmidos cabelos os carinho com lhe-Tocou <<<

>>> O marido, estático na terrível dúvida de apertar mais ou soltar o pescoço dela, assustou-se quando a porta subitamente foi aberta. Voltou o rosto, quase que de imediato afrouxando os dedos. Ela buscou o ar que lhe fora roubado, e sentiu um alívio gigantesco ao ver quem entrava.
“Quem é você?” perguntou o violento marido, sem entender a intromissão.
“Ele quer me matar” ela gritou, com um ar de vítima substancial.
“Como assim? Eu sou seu marido!”
Não houve tempo de falar qualquer outra coisa. O rapaz avançou sobre ele, esmurrando-lhe o rosto. O marido caiu com as costas no chão, batendo a cabeça, e gritou de dor. Ela correu para abraçar o heroi, tranquila.
“Ele é seu marido?” perguntou.
Ela apenas inclinou a cabeça, envergonhada da própria desmesura.
“Mas você me disse que ele só voltaria amanhã!”
“Esqueça isso! Vamos embora, antes que alguma coisa aconteça!”
O marido se impressionou ainda mais com aquele espetáculo ridículo. Chegava a ser absurdamente patético estar caido, diante da esposa traidora e do amante. Como aquele desgraçado tivera coragem de tocar em seu rosto? Sentiu um ódio ainda maior dominando-lhe a mente e o corpo. Ergueu-se, pronto para acabar com os dois. Aproximou-se, os punhos cerrados.
O rapaz percebeu e tirou das costas alguma coisa que escondia. O marido segurou-lhe o rosto, pronto para esmurrá-lo, então se deteve. Olhou para a própria barriga e viu uma faca enfiada, sangrando. Caiu, machucado, encarando o amante vil. Trêmulo, colocou as mãos no ferimento, e arrancou de lá o instrumento que o inutilizara. Sentiu o corpo estremecer e, aos poucos, foi perdendo a noção do tempo, com a faca ainda na mão.
“Por que você fez isso? A gente devia ter fugido! Agora vamos ser incriminados pela morte dele”
“Não era isso que você queria? Se livrar dele?”
“Não dessa forma. Não queria que você o matasse”
“Eu estava defendendo você. Ele ia te matar”
“Defendendo de quê? Ele nunca me mataria”
Ela se aproximou do marido. Apanhou a faca que estava na mão dele e observou.
“Ele não merecia isso... Eu devia morrer junto dele”
“De que você está falando?”
“Se ele morrer, eu estarei perdida. Não sou esposa de verdade. Ele deixou a esposa pra ficar comigo. Todo o dinheiro vai pra ela, não vai ficar pra mim. E eu vou ser incriminada fácil”
“Então,vamos fugir!” pediu, aproximando-se.
Tomou a faca da mão dela. Abaixou-se ao lado do corpo, enquanto ela se afastava, chorando. Tocou o pescoço do homem. Ainda havia pulso, para sua alegria. Voltou até ela, sorrindo.
“Está vivo”
Girou a faca e enfiou no peito dela, atravessando-lhe o tórax. Retirou e enfiou outra vez. Quando o corpo dela caiu, mais uma vez buscando um ar que não havia, penetrou a faca e começou a rasgar cruamente. Nem gritos ela conseguia mais soltar. Em pouco tempo, arrancou para si o coração ainda pulsante.
Em seguida, caminhou até o marido. Deu-lhe um tapa no rosto e disse:
“Acorde, homem! Venha ver sua esposa morta!”
O homem despertou e viu o amante ensanguentado sobre si. Tentou se mover, lutar, só que a faca foi enfiada com força em seu pescoço, depois girada e só então arrancada. O corpo despencou sem vida, mas o algoz fez o mesmo trabalho de antes, arrancando-lhe também o coração.
Mário guardou os corações dentro de um pote, colocando na mochila. Observou os dois corpos retalhados. Não sentia remorso. Eram o terceiro casal cujos corações guardava, após dormir com a esposa. Mas ela fora a mais bonita... Guardou as luvas de inverno na mochila, assim como a aliança dela. Sempre guardava as alianças das esposas, pois elas se tornavam suas dali em diante. Enfiou por fim a faca de volta ao peito vazio dela.
E tocou-lhe o rosto uma última vez, por alguns instantes sentindo uma ternura a ponto de querer chorar de alegria por mais um dia feliz.

4 comentários:

  1. Bom conto com temática forte e adulta. Muito criativa a narração em dois tempos (me deu uma dor de cabeça danada pra ler). Gostei!

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  2. Este daria um ótimo filme de serial killer :-)

    escreva sempre
    adriano siqueira

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  3. Olha cara, eu admiro o fato de vc ter escrito quaseee tudo de trás pra frente, porém acho que vc poderia muito bem ter utilizado de uma narrativa normal, mesmo contando a história de modo fragmentada, pois essa narrativa é muito cansativa diga-se de passagem. Mas gostei do seu conto, vc escreve bem, tem um bom portugês, e soube levar a história de forma adequada.
    Se bem que eu achei o seu conto mais pra SUSPENSE, do que pra terror propriamente dito.
    Mas independente do que seja, vale ressaltar que é um conto de qualidade!!

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  4. Olá, Elton!
    Seguinte, eu gosto do tema. Acho que o conto foi muito bm estruturado, mas tive dificuldade pra me concentrar nos momentos em que as frses foram invertidas. Talvez, pelo fato de estar lendo no computador. Mesmo assim, achei essa proposta interessante, afinal, qeum rompe certas barreiras, as vezes alcance horizontes distantes. Saramago, por exemplo, ousou e se utilizou de uma pontuação única, própria do estilo dele.
    Ah, a frase final é ótima, ele causaria inveja ao Norman Bates! Abraços!

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