segunda-feira, 15 de junho de 2009

INSPIRAÇÃO

A noite já ia avançada e Henrique não tinha posto no papel uma linha sequer. Começava a ficar irritado e o sentimento de frustração crescia cada vez mais forte. Como era possível que fosse tão incompentente? Ficara de mandar sua história para um concurso de escritores de horror, comprometera-se e agora não conseguia pensar em nada. Como podia ser caprichosa essa tal de inspiração. O que mais poderia fazer para invocar ideias? Já havia assistido toda a série do velho Freddy, jogado todos os Silent Hill, Resident Evil, Fatal Frame, visto vários filmes de terror oriental, se olhado no espelho num quarto escuro, lera Poe, Lovecraft, Ambrose Bierce, Stoker, Kafka, Stephen King (este último ele precisou de uma boa dose de paciência) e muitos outros autores do gênero. Estava disposto a fazer algo drástico e, infelizmente, clichê. Passaria a noite em um cemitério que existia a duas quadras de onde morava. Sabia de uma entrada pelos fundos, um buraco no muro. Será que teria coragem? Resolveu que iria e levaria o gravador.

Na hora estipulada ele estava em frente ao muro dos fundo do lugar supostamente assombrado, pensando ainda se entrava ou não. Deu de ombros e entrou . Caminhou um pouco entre os túmulos, o vento cortante arrepiando sua pele e mexendo suas roupas. Ligou o gravador e sentou-se sobre uma lápide já desgatada. Agasalhou-se e pôs-se a observar o lugar. As estátuas, cruzes a mármores frios davam-lhe calafrios, no entanto nada lhe veio à mente. O silêncio era aterrador, parecia até que não existia uma cidade ao redor, era como se tivesse entrado em outro mundo. Pensou nas milhares de tumbas espalhadas no cemitério. Ele estava ali, sobre milhares de cadáveres, milhares de gente morta sob seus pés. Estremeceu. Olhou para a o epitáfio do túmulo onde estava sentado. “Ele só queria paz”. Era o que estava cravado na pedra. Um cemitério podia até ser um lugar de paz para os mortos, mas para os vivos, como ele, era bem desagradável.

O farfalhar das árvores e o jogo de sombra das coisas o incomodava. Foi quando pensava nisso que sentiu o frio aumentar e alguma coisa apertar-lhe a garganta com uma força letal. Levou as mãos à área do estrangulamento e não conseguiu sentir nada. Seu pescoço continuava sendo apertado com muito força, com muita raiva. Ouviu um grito ditorcido, alucinado e o aperto intensificou-se. Não resistiu.

Pela manhã o coveiro encontrou o corpo do jovem Henrique. Lamentou e ligou para a emergência. Enquanto aguardava o atendimento chegar se abaixou e pegou o gravador do rapaz, caído ao seu lado. Rebobinou a fita e colocou para rodar. Ouviu apenas estática por alguns minutos, já ia desligar quando a máquina começou a reporduzir:

- Saia daqui, me deixe em paz, Vá embora, me deixe em paz, vá embora ou eu mato você, saia daqui, saia daqui, vá embora ou mato você...

2 comentários:

  1. Foi bem escrito, mas poderia ter sido prolongado e tido mais descrições. Afinal, sobraram muitos caracteres para isso! =)
    Mas não me chamou muito a atenção... Faltou conteúdo...
    Eu diria que àqueles que têm medo de cemitérios gostaram... hehehe

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  2. Achei o conto interessante de se ler, contudo a trama não foi suficientemente desenvolvida a ponto de criar um clima envolvente e assustador, como imagino que o autor tenha pensado.
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    Outro detalhe importante que saltou aos olhos foi a rapidez com que se encerrou a história. Acho que mais detalhes e explicações poderiam ter sido dados e o final melhor explorado.
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    Boa sorte

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